
Segunda, 31 de agosto
A ciência tem chegado a estudos cada vez mais detalhados do cérebro humano. A grosso modo o cérebro é bilateralmente simétrico, seus hemisférios direito e esquerdo conectados pelo corpo caloso e outras conexões. Sua base consiste de estruturas como o bulbo que regula as funções autônomas incluindo respiração, circulação e digestão e o cerebelo que coordena o movimento. Na parte mais externa, encontra-se o córtex cerebral, responsável por muitas das funções mentais mais complexas e desenvolvidas, como a linguagem, o processamento de informações. o comportamento emocional, a memória e outras funções.
Estudos recentes apontam que o homem pode modificar fisicamente o seu cérebro a partir dos pensamentos que costuma ter. Segundo Richard J. Davidson, atual diretor do Laboratório de Neurociência Afetiva e do Laboratório Waisman de Imagem Cerebral e Comportamento, ambos da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), quanto mais pensamentos negativos, maior atividade no córtex direito e, em consequência, maior ansiedade, depressão e hostilidade, ou seja, mais infelicidade auto-gerada. Por outro lado, quem desenvolve bons pensamentos e uma visão amorosa da vida, exercita o córtex esquerdo, elevando as emoções prazerosas e a felicidade.
Recentemente li uma matéria sobre o homem mais feliz do mundo. Um sujeito que ao ser submetido a inúmeros testes mostrou que as regiões do cérebro onde encontram-se as emoções negativas, como medo, depressão, ansiedade e estresse não apresentavam atividade significativa. Em contrapartida as regiões responsáveis pela satisfação e plenitude existencial apresentavam índices que superavam de longe todas as outras pessoas que haviam se submetido aos mesmos experimentos.
Querendo atualizar esses dados, procurei no Google pelo "homem mais feliz do mundo". Apareceram várias ocorrências com dois nomes diferentes, ambos monges budistas.
Um deles é Mathieu Ricard. Nascido na França, atualmente com 60 anos Ricard é o braço direito de Dalai Lama. Filho do filósofo e membro da Academia Francesa, François Revel, Ricard fez doutorado em genética molecular e trabalhava ao lado de François Jacob, Prêmio Nobel de Medicina. Com todo sucesso angariado em sua profissão e com um futuro brilhante pela frente, Ricard não se sentia plenamente satisfeito até que um dia, fortemente influenciado pelo budismo abandonou o sucesso material e foi para o Himalaya, começando uma vida nova do zero. Através da meditação ele passou a encontrar a plenitude que tanto buscava. Em uma experiência realizada nos EUA, ao ser submetido a 256 sensores e dezenas de ressonâncias magnéticas, apresentou atividade nula nas regiões responsáveis pelas emoções negativas e um altíssimo índice na região de emoções positivas.
A outra ocorrência diz respeito a Yongei Mingyur Rinpoche, 32 anos, nascido no Nepal, considerado o "suprasumo da felicidade" após submeter-se a exames na Universidade de Wisconsin-Madison (EUA). Os resultados indicaram que, ao meditar sobre amor e compaixão, uma parte do cérebro, ligada à felicidade, obtinha uma atividade até 800% superior aos outros voluntários
com menos experiência de meditação. Enquanto meditava ele era submetido a sons de choro, desespero, tiroteios, etc. sem sentir-se abalado por esses fatores externos. Ao ser entrevistado, disse que usa a meditação para transformar sofrimento em felicidade. Diz ele que sofria da doença do pânico e que depois de muito meditar passou três dias olhando para o pânico e disse "bem vindo pânico" e o pânico se foi.
Em ambos os casos, foi a força do pensamento que controlou as emoções, transformando-as positivamente.
Há alguns anos atrás, eu frequentava um templo dos Hare Krishna no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Percebia que os deixava leves a repetição do mantra
Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare
Diziam que ao repetir essa entoação, além de desocuparem a cabeça das vaidades e problemas do mundo material, as vibrações inerentes ao mantra os colocavam em uma frequência mais elevada que ajudava a eliminar os karmas negativos levando-os pelo caminho do Dharma em direção à iluminação.
A questão é saber, como é que, sem precisar isolar-se no Himalaya, num templo dos Krishnas ou outra religião qualquer, mas sim vivendo numa grande cidade, com o trânsito, as filas, a poluição, o estresse e as ansiedades provocadas por um mundo altamente competitivo, podemos alcançar um grau de emoções positivas que supere ao largo as negativas e que além de nos tornar pessoas melhores nos dê a capacidade de contaminar outras pessoas a viverem a vida de maneira mais leve e feliz.
De uns tempos para cá, sempre que me ocorre uma emoção negativa, procuro isolá-la, separá-la de outros aspectos do meu ser, para que possa reconhecê-la melhor e não deixá-la ocupar mais que sua real dimensão. Se não dominamos nossas emoções elas podem tomar conta de tudo e você por um tempo ficar tão identificado com algum tipo de emoção que parece que sua vida se resume a isso.
O mesmo pode acontecer com certas dores físicas. Já vi um amigo dizendo: "eu sou uma dor de cabeça" não no sentido figurado, mas porque estava sendo vitimado por uma forte enxaqueca. Quando eu tinha dor de cabeça (há muito tempo não tenho) também procurava isolá-la, vê-la de fora e dar a ela sua justa dimensão até um ponto em que ela desaparecia. Claro que às vezes me fazia auxiliar de algum comprimido, mas a ação do meu pensamento sobre a dor era fundamental no processo.
Voltando às emoções, pergunto o que traz a felicidade para cada um. Não conheço ninguém que seja feliz constantemente. É normal oscilarmos de humor conforme as circunstâncias, quando alternamos conquistas, boas novidades e as dores e dificuldades porque passamos. Como já disse em outro post a dor também nos ajuda a crescer. Mas para que esse crescimento realmente aconteça e de forma mais breve o melhor é não esconder a dor embaixo de um tapete, fingir que ela não existe, mas ter um diálogo franco com ela e desmanchá-la com a força do pensamento, tal qual o Rimpoche fez com o seu pânico.
Se estou triste ou melancólico e faço uma música, o que vem depois é uma enorme alegria. Às vezes, quando vamos sair de férias, quando somos apresentados a alguém que gostaríamos muito de conhecer, quando reencontramos uma pessoa de quem temos saudades, quando passamos num concurso, terminamos um disco ou começamos uma nova história de amor, sentimos uma imensa felicidade que supera todas emoções negativas que estávamos sentindo e até mesmo a dor de alguma perda.
Lembro de uma vez, logo que minha família mudou-se para Porto Alegre, meu pai estava em Sao Paulo e minha mãe passava o dia fora trabalhando. Certo dia estava meio acamado, com dor de cabeça e sintomas de gripe quando bateram na porta de casa e era o meu pai que chegava inesperadamente. Aquela sua súbita aparição transformou-me enormemente e nem lembrei mais das dores, elas sumiram.
Outra vez estava numa praia do litoral gaúcho, aos 16 anos sentindo-me um pouco gripado e voltando pra casa pela rua, no meio de uma chuva fina. Quando vejo, passa ao lado um carro com uma menina com quem eu tinha uma história acompanhada pela sua mãe. Fiquei ótimo na hora, elas me deram carona e passei dias incríveis naquela semana.
O importante portanto, é saber buscar os sentimentos positivos e tentar torná-los o mais permanente possível.
Isso não quer dizer que seremos pessoas alienadas, que não estão vendo o mundo a sua volta, com toda miséria e sofrimento que há, mas sim reunir emoções positivas que nos deem força para lidarmos com tudo isso de uma forma positivamente ativa e transformadora.
Quando faço música sempre penso na vibração que vai passar aquela melodia combinada com aquelas palavras. sempre procuro ser o mais verdadeiro e mais íntegro possível e sempre procuro conectar essas qualidades com as pessoas que irão ouvir e cantar essa música posteriormente.
Nisso reside uma grande responsabilidade, já que hoje em dia são milhões de pessoas que ouvem minhas músicas pelo mundo afora.
Ontem, minhas amigas Chiara (que está hospedada aqui em casa) e Luana compuseram uma música linda enquanto eu cochliava na sala. Aí me acordaram para mostrar a canção. Foi um desses momentos em que a felicidade domina o ambiente. Hoje a Luana enviou-me uma mensagem linda dizendo: "To.. até o cheiro da sua casa é música ... '
Quinta durante as gravações do DVD da Ana Carolina reencontrei Gilberto Gil que não via desde o começo de 2008, quando tivemos uma reunião no Minc sobre o festival de música brasleira que eu organizava na França. Na ocasião tinha achado ele pesado, muito distante do artista que sempre admirei. Foi ótimo esse reencontro agora, pois ele chegou muito leve e com músicas novas. Ficamos duas horas e pouco no camarim tocando violão. Mostrei minhas mais recentes e ele uma linda que fez para uma filha que vai casar. Pedi-lhe para tocar A Linha e o Linho que acho linda. Ele tocou essa e outras do repertório antigo, fez coro comigo e com Chiara sempre com altíssimo astral. Com isso a espera foi doce.
Gil resenhou, traçando altíssimos elogios, o novo disco de meu amigo Gelson Oliveira, que sairá pelo meu selo, Pic Music, no mês de outubro. Pra quem não conhece, Gelson é um excelente cantor e compositor muito atuante no sul do Brasil e na França, mas pouco conhecido no restante do nosso país. Quando falei a Gil que tinha gostado muito do comentário, onde ele colocava o Gelson "lá em cima" ele respondeu: "coloquei onde é o lugar dele é lá que ele transita". Sábias palavras de um mestre!
Para satisfazer um pouco a curiosidade dos que me acompanham, mas também deixá-la mais aguçada, as gravações do DVD da Ana encerraram na madrugada de sábado. Saímos do local, uma bela casa com um imenso lago que serviu de locação, as 5 da manhã.
Foi uma superprodução. Acho que havia mais de 300 pessoas trabalhando, entre músicos, técnicos, equipe de filmagem, diretores, iluminadores, equipe cenográfica, figurantes, equipe de catering, seguranças, motoristas, etc. Incrível. E vai ficar muito bonito.
Li no Blog da Zizi Possi que ela falou de alguns convidados do DVD. Entre eles listou Mart' nalia. Mas a informação não confere, Martina não está nesse trabalho. Há outros artistas de peso, mas ainda não é hora de entregar tudo, porque senão lá se vai a surpresa.
O meu disco segue de vento em popa. Também não posso adiantar outras coisas por enquanto, mas as novidades serão apresentadas a seu tempo.
Estou fazendo com meus parceiros de músicas de filmes, João Nabuco (parceiro em Amores Possíveis), Eugenio Dale (parceiro em Sexo Amor e Traição) a música tema de um filme novo que será cantada por Maria Gadú. Já fizemos a demo que ficou linda na voz de Gadu e aprovada pela direção do filme. Em breve mais notícias também.
Boa semana a todos
Abraço
Foto: Chiara et Luana avec mois!