sábado, 17 de outubro de 2009

BRATUQUES, RUMPILEZZ E AMIGOS NOTÁVEIS PARTE 1

TERÇA NO BRATUQUES


Nessa terça-feira rolará a quinta edição do  Projeto  Bratuques.  Com direção musical de meu querido irmão Gastão Villeroy (na foto abaixo) , esse projeto vem rolando desde o final de setembro. Todas as terças, Marco Lobo e banda recebem dois convidados: um cantor e um instrumentista. Nessa terça os convidados somos eu e Arthur Maia, além de Alessandro Kramer Bebê que vem pra reforçar a banda com seu acordeão miraculoso, o que significa que faremos uma milonga para alegria de quem gosta do ritmo. A música chama-se El Guión e é uma parceria com Don Grusin e Bebeto Alves. Fiz com Don a música em Los Angeles e depois aqui no Rio conclui a letra com Bebeto. Ainda cantarei OuroSão Sebastião e Majestade.



Sobre o outro convidado, pra quem não está lembrado, Arthur Maia é baixista, compositor e produtor, que atua há muitos anos com Gilberto Gil e já integrou as bandas de Djavan, Milton Nascimento, Ivan Lins e Luis Melodia, entre outros. Recentemente produziu o disco Madrugada de Mart’nália. Em todo lugar que vou fora do Brasil os músicos sempre me perguntam pelo Arthur. É que além de excelente músico, o cara é muito comunicativo e simpático. O Guinga disse que ele é primo do Romário. E é verdade que tem certa semelhança física e sua facilidade pra tocar lembra muito a do baixinho a empurrar a bola pro fundo do gol. Segue o link:

 http://www.arthurmaia.com.br



Depois do show vamos sair pro abraço, com fotos e autógrafos nos discos.

O projeto segue até o final de novembro com a seguinte programação:

 27/10 – Maria Gadu & Gabriel Grossi

03/11 – Moraes Moreira & Armandinho

10/11 – Rita Ribeiro & Carlos Malta

17/11 – Chico César & Gisbranco

24/11 – Margareth Menezes & Saul Barbosa

Sala Municipal Baden Powell – Av. N.Sra. Copacabana, 360

Informações: 2262-2581 / 2215-5172 (de 2ª a 6ª, de 10 às 18

                                    

   LETIERES LEITE & ORKESTRA RUMPILEZZ 

Lançamento do CD em São Paulo

Imperdível!



Criada pelo compositor, arranjador e saxofonista Letieres Leite, a Orkestra (com K como no original grego) é um grupo de sopros e percussão, no qual as composições e os arranjos são concebidos a partir das claves e desenhos rítmicos do universo percussivo baiano.

Com as composições inspiradas na cultura ritmica do centro de Salvador, nos toques de orixás da música sacra afro-baiana, nas grandes agremiações percussivas, como o Ilê Aiyê, Olodum e nos Sambas do Recôncavo, a nova amálgama é repleta de significações, sensibilidade rítmica e uma  influência jazzística, onde as improvisações também marcam presença, com uma formação próxima das big bands e concebida em um estilo atual.

A Orkestra tem em seu nome a representatividade dos três atabaques do candomblé: o Rum, o Rumpi e o Lé, acrescido das letras ZZ da palavra Jazz.

  Gravado no Teatro Castro Alves (ao vivo, a portas fechadas) o álbum foi mixado nos EUA por Joe Ferla, vencedor do Grammy, produtor e engenheiro de som de grandes artistas como John Meyer, Natalie Cole, John Scolfied, Brecker Brothers, dentre outros. O CD irá sair pelos selos Biscoito Fino e Caco Discos.

Conheci Letieres por volta de  1983, em Porto Alegre, onde ele passou uma temporada de dois ou três anos. Sua presença na cidade foi marcante, montou grupos com diferentes formações, acompanhou e produziu cantores, escreveu arranjos e ensinou música pra muita gente.   Sempre  viajando pela música saiu de Porto Alegre e foi morar em Zurich e Viena, voltando depois pra sua Bahia natal. No final dos anos 90, o reeencontrei  dirigindo o show de Ivete Sangalo, que me chamou pra subir no trio e cantar com ela Felicidade do Lupicínio Rodrigues.  Paralelo à sua atuação com Ivete, Letieres foi desenvolvendo esse precioso trabalho que mistura os ritmos de candomblé com  orquestra de sopros, um dos mais originais e estimulantes trabalhos de música instrumental que tenho visto nos últimos tempos!


Show de lançamento em São Paulo     

Sábado,31 de Outubro 21:00 hs. e Domingo 1 de Novembro, 18:00 hs.

Sesc Vila Mariana- R. Pelotas, 141 - Vila Mariana - São Paulo - SP Tel: (11) 5080-3000



 BROTHERS OF BRAZIL




Algo que parecia improvável aconteceu. Dois irmãos com propostas musicais completamente diferentes resolveram fazer uma dupla e deu certo! Tratam-se dos filhos de Eduardo Suplicy, o senador sério e, ao mesmo tempo, boa praça que, a pedido de Sabrina Sato, desfilou pelo Congresso portando uma sunga de superhomem sobre as calças.

 Supla, o mais velho,  surgiu no cenário do rock dos anos 80 com pose punk e semelhanças com Billy Idol. Nunca acompanhei de perto sua carreira mas sempre admirei sua perseverança no personagem que criou (e se transformou) não só para fazer música, mas também para definir como seu estilo de vida.   João Suplicy também teve influência roqueira mais explicitamente de rocabilly, mas  direcionou sua carreira para a MPB com ênfase em samba, samba rock e outras bossas. Não é a toa que fez para a gravadora Albatroz de Roberto Menescal um disco e depois um show chamado Elvis em Bossa, com direção de Luiz Carlos Mielle, onde congregava com maestria dois gêneros aparentemente distintos.  

Há pouco mais de um ano, João  e  Supla juntaram as forças e, sob o nome de Brothers of Brazil,   montaram um show conjunto que vem divertindo platéias do Brasil, EUA e Europa. Eu assisti no ano passado no Posto 8 e curti muito, porque além de musicalmente interessante há os aspectos performáticos de ambos, cada um no seu estilo. Eles brigam mais que os irmãos do Oasis, discutem no palco e nunca se sabe se é a sério ou se apenas faz parte da performance artística. Acho que nem eles sabem, deve ser as duas coisas. Uma de suas músicas Samba around the clock (parafraseando a clássica Rock around de Clock de Bill Haley) ganhou um clipe, cujo link segue logo abaixo. Pra se divertir: 


http://www.youtube.com/watch?v=3c9nAHVg-HQ&feature=player_profilepage


MAIS UMA VEZ GADU 

(na corrente do Nemo)



O show de Maria Gadu está cada vez melhor.  É muito bom ver os progressos na carreira de um artista e a Gadu venho acompanhando bem de pertinho e ajudando a divulgar aqui no blog, no facebook e no boca a boca. Sexta fui no Teatro Rival e, no bate papo do camarim, sua mãe, falando comigo e nossa amiga Juliana, disse que havíamos ajudado a parir essa história, porque estávamos desde o comecinho nos shows do Cinemathèque. Na verdade, a primeira vez que vi a Gadu foi num sarau organizado por Dudu Falcão na casa da estilista Cristina Cordeiro, ela sentadinha em posição de yogue (sua marca registrada), ligeiramente tímida, cantando suas canções de forma muito carismática.  Depois vi  umas 4 vezes no Cinemathèque, 2 no Posto 8, uma no Zozo e agora num Rival completamente lotado. A banda está com uma sonoridade incrível, o som cheio sem ser pesado, com uma timbragem muito especial que faz ressaltar ainda mais a voz da Maria. Em breve deve rolar Circo Voador. Lembrando que a Gadu está com uma música na novela das 6 e outra na das 8. Não lembro de outro artista que tenha aparecido cantando, num mesmo período,  em duas novelas da Globo. Isso só reforça o que disse minha amiga Luciana Pessanha:  A Maria Gadu pegou a corrente do Nemo.

 

CHICO BOSCO ORIENTANDO



Meu amigo Francisco Bosco, escritor, filósofo e compositor está numa viagem com sua mulher, a também escritora e roteirista Antonia Pelegrino pelo Oriente. Já  estiveram na China e no Tibet. Quando ele voltar vou pedir para que dê uma canja aqui no blog contando um pouco do seu périplo e publicando algumas fotos. Estou certo de que com a sua imaginação, sua capacidade de concatenar idéias somadas à experiência que está vivendo, poderá elaborar textos muito nutritivos e interessantes pra dividir conosco.


UM TAL DOUTOR COLOMBO



Outra pessoa que em breve deve escrever aqui é meu grande amigo Dr. Colombo Cruz, clínico geral com ênfase em medicina preventiva e ortomolecular. Ele atende em Niterói, mas no começo do ano vai abrir uma sala no Rio, provavelmente em Botafogo.  

Conheci o Colombo quando eu estava começando minha carreira musical e via seus cartazes espalhados por Porto Alegre anunciando o lançamento de seu primeiro disco. Depois de alguns meses aconteceu o tão esperado show e foi muito bom. Colombo tinha belas músicas, cantava bem e se mostrava solto no palco, arrebatando o público e a crítica. Apesar de desconhecido em Porto Alegre, seu marketing foi tão bom que o teatro da Assembléia, com capacidade para mil pessoas, estava lotado. 

Na época ele morava em Santa Maria, uma cidade universitária, situada nos pampas, onde estava concluindo o curso de Medicina enquanto desenvolvia também a carreira de músico. Depois de sua formatura, veio para o Rio, onde se estabeleceu com a família e foi trabalhar na ABBR (Associação Brasileira Beneficiente de Reablilitação), um hospital de reabilitação localizado na Av Jardim Botânico, onde, entre outros pacientes,  cuidou da saúde de João do Valle, o célebre compositor maranhense autor de Carcará que fez com Zé Keti e Nara Leão (depois sustituída por Maria Bethânia, que estreava brilhantemente) o show Opinião nos anos 60. 

No final dos anos 80, João do Valle se reestabelecia de um acidente vascular cerebral e ficou sob os cuidados do dr. Colombo durante 1 ano e meio. Quando se recuperou e teve alta,  Chico Buarque organizou um show no Teatro João Caetano para arrecadar fundos para o amigo. Muitos artistas participaram, entre eles o próprio Chico, Beth Carvalho, Fagner, Zé Ramalho, Gonzaguinha, Elba Ramalho, e Alcione. Havia um apresentador que anunciava cada atração da noite. No final do show ele fez um suspense dizendo que chamaria a pessoa que havia ajudado João do Valle a se recuperar e anunciou Colombo Cruz que entrou a rigor (todo de branco) e foi recebido de pé pela platéia que o aplaudia. Todos ficaram surpresos que além de tudo o doutor era compositor e cantava muito bem.

Anos depois, Colombo foi morar em Niterói onde tem uma grande clientela. Recentemente fui ao seu consultório, pois precisava perder 7Kg em 40 dias pra participar do DVD de Ana Carolina. Seguindo os conselhos do doutor, mudei de alimentação, parei de comer carne vermelha, derivados de leite, doces,  pão branco, e eliminei definitivamente as bebidas alcóolicas. Associando a essa dieta uma rotina de exercícios diários, cheguei ao dia da gravação com 8 kg a menos e gozando de muita saúde. Na sequência,  ainda perdi mais dois, contabilizando, em 2 meses,  10 kilos perdidos e uma massa muscular muito mais definida. A boa oxigenação e uma alimentação balanceada livre toxinas e produtos artificiais melhoram muito nossa disposição,  o corpo, a mente e as emoções ficam bem mais saudáveis. Isso é o que almeja a Medicina preventiva praticada pelo dr. Colombo.

Quando perguntado sobre em que área trabalha, o doutor diz que é médico. Se insistem questionando sua especialidade, ele responde que é medicina, pois a seu ver  o organismo é um sistema único, onde todos órgãos, glândulas e outras partes e funções tem uma relação de completa interdependência. Parece óbvio, mas muitas vezes o especialista não leva em consideração esse fato.  Essa visão abrangente o credencia como um médico holístico, em concordância com outras ciências que evoluem nesse sentido, agregando os valores acadêmicos ocidentais com a sabedoria milenar do Oriente.


UMA PEDRINHA FICOU PELO CAMINHO



Com a disciplina que adotei nessa minha nova fase de vida, fui expurgando excessos e toxinas e percebi que também me livrava de coisas ligadas ao meu passado, não só do ponto vista físico mas também certos pensamentos e emoções que já não tinham mais serventia.  O processo de limpeza foi e está sendo tão intenso que nos últimos 2 dias eliminei até mesmo duas pedrinhas que carregava há anos no rim direito, obtidas em minhas frequentes e gastronomicamente intensas estadas  na França, onde  o hábito de comer queijo após as refeições é uma tradição irrecusável e a água é tão calcária a ponto de deixar leves camadas de cálcio na louça secada no escorredor.  

A última pedrinha  deu seu alarme as 5 da manhã desse domingo. Levantei, tomei um Buscopan e procurei me distrair, lendo, tocando piano e escrevendo no computador.  Não adiantou. Tomei água, outro Buscopan e um banho.  Mas a dor não cedeu, então, pelas 8 horas, calmamente fiz uma malinha, peguei o carro e rumei pra Clínica São Vicente. No caminho a dor aumentou, como costuma aumentar quando a pedra sai do rim e entra no uretér. Mas não perdi a calma e, apesar do  engarrafamento que ralentava a Marquês de São Vicente em virtude das provas da PUC, cheguei ao meu destino pelas 8:30.  

Depois de examinado e medicado, expeli a danada e me senti novinho em folha. Dormi um pouco pra recuperar a noite interrompida e sai pra pedalar. Fiz uns 20 km, malhei nos aparelhos da Lagoa e complementei com alguns exercícios de Yoga. 

À noite, com a cabeça oxigenada, escrevi as partituras pro ensaio de amanhã e ainda arrumei um tempinho pra blogar.

Foi bom, valeu!  As pedras ficaram no caminho,  eu passei, passarinho.*

E o casal de sanhaços que sumira da minha varanda voltou de mansinho.  Bom sinal!

Boa semana a todos.

Abraçones e beijones.


P.S.  Sobre Twitter:  não sou de fato um twitteiro, não costumo entrar muito lá. Não dá tempo de fazer mais isso, por essa razão  não sigo quase ninguém e só escrevo e respondo de vez em quando. Agradeço a compreensão.

 * Parafraseando Mario Quintana que escreveu: 

Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão... Eu passarinho

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

JOGOS FUTURO AMOR CIDADANIA




                                                 foto 1 Nascer do Sol : Carlos Eduardo Villeroy

1. REFLEXÕES SOBRE DUAS RODAS

A escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas 2016 aguçou em mim a necessidade de organizar em texto um conjunto de reflexões que já vinha fazendo sobre civilidade, vida urbana, crescimento sustentável, responsabilidade social e outros temas que se interrelacionam e entrelaçam e vêm integrar o núcleo de meus assuntos de maior interesse. 


Geralmente desenvolvo esses pensamentos enquanto pedalo, pois como muitos leitores já sabem,  em dias de tempo bom, desde que não tenha uma reunião formal e não precise levar instrumentos, resolvo boa parte das coisas que tenho a fazer pela zona sul de bicicleta. Assim economizo combustível, ajudo a desafogar o tráfego, diminuo minha cota na emissão de gases e não perco tempo atrás de vaga para o carro.

Sobre duas rodas e sem motor, me sinto mais perto de tudo, a cidade parece intensificar seus contrastes. Meus olhos em fração de segundos capturam do prédio luxuoso que margeia a Lagoa ao aglomerado de barracos em cima dos morros.  Meus ouvidos captam os sons dos pássaros e micos nas árvores em contraponto ao ruído do fluxo dos carros, a música que passa e some,  os rapapés e discussões nos bares,  cafés e bancas de jornal. Passo por uma sucessão de aromas, agradáveis como a maresia, familiares como pão fresco, sufocantes como o lixo fermentando na frente dos prédios.



2. CIDADANIA: AÇÕES E OMISSÕES

Percebo também mais de perto o nível de consciência e o espírito de cidadania dos moradores dessa cidade.  Certa dia vi um senhor de terno que andava apressado por uma rua de Ipanema e, quando viu um papel jogado no chão, curvou-se para apanhá-lo, deu um giro de 360º , examinou os arredores e voltou cerca de vinte passos para depositá-lo no coletor de lixo que estava mais perto. Algumas horas mais tarde, quando voltava pra casa, dois casais com idades pela casa dos vinte anos subiam minha rua com dois cachorros, quando um dos animais acocorou-se para fazer suas necessidades. O moço que o carregava, foi puxando pela coleira fazendo-o caminhar meio curvado enquanto defecava. Além de maltratar o cachorro, com seu gesto,  o rapaz deixou as fezes ali no meio da calçada.  Quando me dirigi a ele dizendo que deveria recolher a sujeira,  ele ignorou. Repeti com mais ênfase e detalhes e ele deu uma deu uma risadinha irônica.  Então rolou mais ou menos o seguinte diálogo:

-       Ah! Você tá rindo? Tá rindo do que?     Eu falei.  E ele retrucou:

-       Por que?  você vai fazer alguma coisa?

-       Quem tem que fazer é você e não eu. Você tem que limpar a sujeira do seu cachorro.   Então ele disse:

-       Não tem o que fazer? Por que não vai cuidar da sua vida? Tem que se meter na vida dos outros.

Então eu lhe expus que aquilo não se tratava nem só da sua vida nem da minha, mas da vida de todos nós, de todo mundo que caminhava por essa rua.

Aí ele respondeu, meio contrariado, com vergonha da namorada, mas ainda com um tom de ironia que era mais de autopreservação do que de afronta                      -

Tá tudo bem. Valeu, valeu.  Obrigado.

Mas não voltou pra fazer o que devia e então eu disse:

-       Um dia você fai pisar em merda de cachorro e vai lembrar de mim,  vai dizer que eu tinha razão. 

Voltei com a bicicleta, tirei de dentro da mochila um plástico que embrulhava minhas compras, recolhi a sujeira do chão e coloquei numa lata de lixo da rua. E disse a ele:

-       Tá vendo? É isso que você tem que fazer. Aprendeu?

E ele, mais envergonhado ainda, deu dois muchochos, ensaiou fazer mais uma gracinha, mas teve a reprovação imediata da namorada. O outro casal apenas caçoou dele com o olhar.

Eis então dois modelos diferentes de educação, de consciência de vida em grupo, em outras palavras, de civilidade. O rapaz com seu cachorro, nem imaginou que eu estivesse falando em nome do coletivo, ou então que somente um fiscal credenciado poderia chamar sua atenção. Esses pequenos gestos se reproduzem na sociedade em larga escala.  Há aqueles profissionais que ajem com ética, os empresários que produzem com responsabilidade social e aqueles que exploram os funcionários, que jogam sujo nas licitações, que não tratam seus dejetos, lançando-os no meio ambiente sem a menor preocupação com  as consequências que isso possa causar.



3. MOMENTO OLÍMPICO


O fato do Brasil abrigar dois eventos esportivos de escala mundial nos próximos sete anos nos abre enormes perspectivas de desenvolvimento, podendo atrair investimentos e novas tecnologias, incrementando o turismo e criando novos postos de trabalho.

A questão toda é como será feita a gestão desses recursos. A sociedade civil deve se organizar para não só fiscalizar, mas também participar das decisões, ajudar a pensar as prioridades.

Até 2016 a cidade do Rio de janeiro deverá passar por significativas transformações, entre elas e talvez a mais importante,  uma reestruturação do sistema de transportes, com um custo estimado em mais de R$ 5 bilhões, dinheiro que nem o Estado nem a Prefeitura contam. Isso sem incluir as obras das linhas de metrô, cujo traçado deverá ligar a Zona Sul à Barra da Tijuca, que poderiam ser financiadas com recursos do PAC da Mobilidade.




4. DESPOLUIÇÃO, BIOGÁS, CRÉDITOS DE CARBONO

Entre outras mudanças previstas estão a despoluição da Baía da Guanabara e das lagoas da Barra.  Lembro que nos anos 80 a baía recebia cerca de 16 maracanãs diários de dejetos; Portanto, teremos muito trabalho para despoluí-la e se fará necessário, além do processo de limpeza do que já existe,  um controle do descarte das empresas, fazendo-se exigir o tratamento dos materiais poluentes, podendo reciclá-los para reaproveitamento   dentro do próprio sistema, o que pode até ser um fator gerador de lucro. Um das formas de se fazer isso é o reaproveitamento do lixo para a produção de biogás, que pode ser utilizado para gerar energia para a própria empresa ou ainda ser comercializado para terceiros. Além disso, se a empresa cumprir os requisitos do Protocolo de Kioto, diminuindo a emissão de gases-estufa, poderá gerar créditos de carbono, que poderão ser negociados com os países mais poluidores.

Pra quem não sabe, os créditos de carbono são uma espécie de moeda criada no protocolo de Kioto e cuja unidade corresponde a uma tonelada de CO2 não emitida na atmosfera. Os países com maior redução geram esses créditos que podem ser vendidos aos países que ainda não atingem índices satisfatórios no controle de gases estufa.

O problema desse mecanismo é que, se por um lado,  estimula a valorização do meio ambiente nos países que fazem o controle, ao mesmo tempo dá ao comprador o direito de continuar poluindo, na mesma proporção em que adquire os créditos. Como as cotas, a priori, são limitadas, o protocolo estima que haverá mais redução do que emissão e que os lucros obtidos por quem vende as cotas podem gerar um novo tipo de consciência nesses mercados, com um futuro equilíbrio.

Eu, particularmente, acho que as empresas deveriam se preocupar com o futuro do planeta e obter seus lucros com soluções novas e inteligentes com o mínimo de poluição possível por ser essa a única saída e não para obter vantagens com a venda dos créditos aos países poluentes, dando-lhes aval para que continuem agredindo a natureza. Num primeiro momento de conscientização, como incentivo,  ok, mas se continuarmos sempre pensando dessa forma rasteira não iremos muito longe.



Voltando aos investimentos no Rio de Janeiro para 2016, há que se evitar os desperdícios como aconteceu no Pan, cujas estruturas estão, ou sub aproveitados ou abandonadas em péssimas condições. Também há que se cuidar para que não se contraiam dívidas, como aconteceu com Atenas e Montreal, que até hoje não pagaram os custos de seus jogos, e nem que haja uma especulação imobiliária como ocorreu em Barcelona.




5. FAVELAS, TRÁFICO, LIBERAÇÃO


O Lula disse que até lá não teremos mais favelas.

Mas de que forma serão realocados os moradores desses lugares? Não dá para se repetir o que foi feito na primeira metade do século passado quando os moradores do centro e arredores foram “depositados”  e esquecidos na Baixada Fluminense ou quando Carlos Lacerda, retirou os moradores da Lagoa e levou-os para a Cidade de Deus também sem nenhum tipo de incentivo para a melhoria de vida daquelas pessoas naquele lugar distante.

Em Porto Alegre, houve uma experiência muito interessante chamada Orçamento Participativo em que delegados escolhidos representavam suas comunidade em reuniões com a prefeitura com o objetivo de eleger as obras prioritárias que deveriam ser feitas na cidade, visando o bem estar coletivo. Entre as obras sociais de maior importância realizadas nesse período estão a reconstrução de  algumas vilas que estavam em péssimas condicões de moradia.

Depois de recensear-se cuidadosamente esse lugares, levando-se em conta o contingente de moradores e coletando informações sobre suas reais necessidades, criaram-se projetos de reconstrução dessas casas, com material bem superior ao que havia e com nova infra estrutura de água, luz  e saneamento básico. Para que fossem feitas as reformas, construi-se um prédio de apartamentos que servia de moradia provisória a essas famílias,  enquanto as vilas eram reconstruídas. E assim foi-se fazendo um rodízio nesses apartamentos à medida em que cada nova vila ia sendo reedificada.


 








 

Coloquei essas fotos da cidade medieval italiana de Manarola, localizada na Região da Riviera Liguriana à beira do Mediterrâneo, que muito faz lembrar nossas favelas em seus aspectos externos, apenas para ilustrar uma possibilidade de transformação dos complexos habitacionais existentes nos morros cariocas, dando-lhes unidade arquitetônica e melhorando as condições de limpeza e infra estrutura.   Essa cidade faz parte de um conjunto de cinco cidades pitorescas, chamado Cinque Terre, as outras quatros são Monterosso, Vernazza, Cornigliae Riomaggiore, que foram agora declaradas  Patrimônio da Humanidade.

É claro que no Rio, as favelas são imensas. Como resolver o problema da Rocinha ou da Maré, por exemplo?  Além disso, como tratar a questão do tráfico nesses casos? Todo mundo sabe que  poderes paralelos ditam as regras em algumas comunidades do Rio. Até lá, terá que se encontrar uma solução para esse problema, que, como muitos já sabem é apenas a ponta do galho de um negócio que tem ramificações longas e profundas envolvendo gente graúda de vários continentes. Do ponto de vista prático a saída provisória dos moradores do morro, seja para ser alocada em outro local ou para reabitar o mesmo com estrutura renovada deverá incluir uma negociação ou expulsão dos comandos que gerenciam esse lugares.



Como se sabe, os comandos de tráfico no Rio mantém o crime sob uma certa disciplina. Não se deve assaltar em qualquer lugar nem praticar crimes que comprometam o negócio principal, que é a venda de drogas. Até onde sei, os comandos restringiram a venda de crack na cidade. Em Porto Alegre, onde não há esse controle, os crimes comuns, pequenos e corriqueiros se multiplicam em função da grande quantidade de viciados. O crack é a pior das drogas e a mais barata. Serve a um consumidor vil que não interessa muito ao tráfico que se pratica aqui, pois dá um lucro miúdo e estimula uma violência que pode ser negativa ao grande negócio.

A que ponto chegamos, em que comandos paralelos criam uma legislação informal que rege as normas de conduta do crime dentro de uma cidade, e que tem o poder de punir e executar sumariamente quem sair das regras?

Muitas vezes, me pergunto o que farão esses jovens, fortemente armados e com quase zero de consciência, tendo sido alijados da sociedade desde que nasceram, quando não houver o tráfico para lhes sustentar?

Não há penitencárias suficientes no Brasil Um preso custa caro ao Estado. Se optarmos pela liberação das drogas, como muitos intelectuais estão propondo, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique, há que se pensar como sera feito esse comércio. De quem serão compradas, como serão vendidas e por quem? Como serão cobrados os impostos? Isso valerá apenas para maconha ou para todas as drogas? Se for apenas para a maconha, como desejam alguns,  como controlar o tráfico da cocaína e do crack?


                                                          Favela, pintura de Di Cavalcanti


6. COLETA SELETIVA DE LIXO, RECICLAGEM

Penso que a falta de oportunidades reais de se ter uma vida boa é um dos fatores primordiais que atraem o garoto das favelas a tentar uma carreira dentro do crime, mesmo sabendo que pode ter vida curta com essa escolha.

A construção de uma nova cidade e de um novo país passa por dentro desses problemas.

Portanto a geração de novos postos de trabalho e, principalmente, a criacão de perspectivas para esses jovens é fundamental para mudar esse quadro, não bastando apenas dar-lhes emprego e salário, mas fazendo-os sentirem-se sujeitos ativos na sociedade, co-autores do futuro, criadores de subjetividade e novos caminhos.




Essa idéia integra  um tema mais amplo que é o da reciclagem. O lixo que produzimos é absurdo e muito variado e não temos ainda uma coleta seletiva eficaz. Na primeira vez que estive em Viena em1994, fiquei maravilhado com  avanço da cidade nesse sentido. Com uma presenca marcante na política austríaca, o Partido Verde  fez fortes pressões para que fossem modificadas as legislações no que diz respeito ao meio ambiente. Já naquela época, os supermercados eram proibidos de fornecer sacolinhas plásticas.  Ou você comprava sacolas reutilizáveis do próprio mercado ou, para levar suas compras, servia-se das caixas de papelão que embalavam os produtos de estoque e que ficavam à disposicão dos clientes à medida de suas necessidades.

Na própria casa, o lixo era obrigatoriamente dividido em 5 categorias: orgânico, papel, alumínio, vidro e plástico. O seu lixo de casa você depositava nos recipientes grandes existentes no prédio. Quando havia muito acúmulo, você deveria transportá-lo a um ponto de coleta onde havia enormes recipientes para receber separadamente cada tipo de descarte.

Na loja do Mundo Verde que se encontra no Leblon, há 5 pequenos tonéis destinados ao lixo separado. Eles tem contrato com uma empresa particular que faz a coleta.

O Governo do Estado e a Prefeitura deveriam, numa ação conjunta, criar estrutura e estabelecer a obrigatoriedade do lixo separado em 5 ítens, podendo administrar com recursos próprios ou abrir licitação para a iniciativa privada cuidar do setor. Eis aí um ramo de negócios a ser desenvolvido, seja pelo setor público ou privado, mas que pode ser lucrativo e gerar novos empregos.

A fibra do coco, por exemplo, é um dos materiais que podem ser reaproveitados de diversas formas. Com fibras firmes e de boa durabilidade podem ser beneficiadas e utilizadas na fabricação de móveis e outros utensílios, ou então triturada até se transformar em pó e fibras, para ser utilizada como composto orgânico, como é feito em Fortaleza, ou como substituto do xaxim, que começa a entrar no rol das plantas em extinção devido ao uso indiscriminado.

  Para se ter uma idéia, as cascas de coco verde representam 80% do lixo encontrado no Rio no verão e demora de oito a dez anos para se decompor. Em todo o país, o plantio de coco verde ocupa uma área de 57 mil hectares, com uma produção de 6,7 milhões de toneladas de cascas por ano. Tomando-se como exemplo a experiência de Fortaleza, a Prefeitura do Rio poderia criar um incentivo para o reaproveitamento dessa material prima, criando redes de coleta, estocagem, beneficiamento e venda dos produtos obtidos gerando emprego e renda e reduzindo o problema do lixo.



7. RIO EU TE AMO, FILME EM MOVIMENTO

Em 2010 será rodado o filme Rio, eu te amo. O terceiro longa da série Cities of Love, concebida pelo produtor francês, Emmanuel Benbihy, que ilustra a universalidade do amor nas mais importantes cidades do mundo e que começou com Paris Je T’aime, seguido de New Yorque I Love You. A versão carioca contará com 4 diretores brasileiros, 4 americanos e três de outras partes do mundo.  Serão 10 histórias entremeadas por uma narrativa que lhes servirá de fio condutor. Dois diretores brasileiros já foram confirmados, Fernando Meirelles e José Padilha. Aproveitando o ensejo do filme, do momento Olímpico e das boas perspectivas que se abrem com a auto estima  do carioca em alta, foi criado o movimento Rio Eu  Te Amo, que já conta com o apoio da prefeitura da cidade e de empresários do setor privado.  Será também uma forma de congregar esforços no sentido de uma mudança de consciência e de atitude com relação à cidade, na busca de relações mais consequentes, mais solidárias,  e, por que não dizer, mais amorosas. Voltarei a esse assunto em breve, com mais informações.



8. PROPOSTA DE PESQUISA

Bem, isso aqui é apenas um primeiro exercício. Solicito a todos que pensem sobre esses temas, procurando idéias originais que possam ajudar a econtrar soluções para esses problemas e com isso podemos  criar um dossiê que poderá ser encaminhado futuramente às instâncias administrativas de nossas cidades (sim isso não vale só para o Rio) ou então aplicado em nossas comunidades através da associações de bairros, nos condomínios, etc.

Está em nossas mãos decidir pelo nosso futuro e  isso depende se agiremos como o senhor de terno ou como o rapaz com seu cachorro.

Depois da publicacão desse post, cheguei a conclusão de que podemos fazer desse blog mais do que um  local de reflexões, encontros e entretenimento. Acho que podemos também aproveitar nossa frequência e tentarmos realizar coisas práticas em relação ao nosso futuro. Proponho que, quem tiver tempo, escolha um dos temas abaixo, dê uma pesquisada e exponha nos comentários o resultados obtidos da pesquisa:

a. Vantagens e desvantagens do comércio de créditos de carbono, levando-se em conta os benefícios obtidos por quem os gera e o resultado final do impacto causado na natureza.

b. Possibilidades de reciclagem do côco, do plástico e de outros materiais encontrados no nosso lixo. Imagino que haja muita gente realizando coisas incríveis numa escala pequena e que podem servir de exemplo para nossas cidades.

 Bom fim de semana. Bom feriado. Bons pensamentos. Bons namoros e paqueras.

Abraçones e beijones.

PS. 11/10/09 : Bárbara Mendes, que é carioquíssima e uma das melhores cantoras brasileiras gravou minha música São Sebastião e fez um clipe com imagens do Rio pra homenagear a cidade pela escolha como sede das Olimpíadas. Tudo a ver com esse post, por isso coloco o link logo abaixo. Vale a pena. Emocionante!

http://www.youtube.com/watch?v=mZxIdpTLzX4