sábado, 4 de julho de 2009

SALMÃO, CHICO, AS PEDRAS E O ARCO




6:30 Acordei preocupado em colocar na “time line” do Final Cut (programa de edição de cinema) as músicas que fiz e gravei nos dois ultimos dias. Passei aqui para dar start ao post desse sábado, porque se for deixando pra depois vou mergulhar no trabalho e posso acabar não escrevendo nada hoje. Decidi que não vou a Sampa, pois é mais importante que eu termine minha parte da trilha por aqui.

Amanhã gravo com um pianista muito fera, David Feldman, no estúdio da gravadora Biscoito Fino onde há um piano Steinway maravilhoso e bons técnicos de gravação.

Ontem dormi pensando no escritor italiano Italo Calvino e já nesse começo de manhã me veio um trecho de um livro formidável de sua autoria chamado Cidades Invisíveis.

O livro é constituído de 55 mini contos em que o mercador, explorador e embaixador veneziano Marco Polo descreve a Kublai-Khan, as cidades do imenso território recém conquistado pelo então rei dos mongóis e dos chineses.

Mas se engana quem pensa que o livro vai contar a saga de Marco Polo o mercador que descobriu na China o macarrão e o trouxe para o ocidente. Não se trata de um livro de História, e, sim, uma ficção saborosa com tons de realismo fantástico e de surrealismo.

A medida que avançamos na leitura, encontramos cidades improváveis, que escapam ao olhar racional e oferecem surpresas constantes aos sentidos. Para entendê-las é necessário manter o espírito em emovimento e o olhar sempre curioso e investigador.

6: 46 Esse assunto me anima e pode render muitas linhas de texto e, por isso mesmo, terei que interrompê-lo agora, pois preciso começar a trabalhar.

10:16 As primeiras 3 horas e meia de trabalho renderam bem.  Aproveitei o silêncio da manhã e depois de testar a música com as imagens, gravei algumas vozes. Normalmente não gosto de gravar voz pela manhã, pois ainda está muito baixa e desaquecida. Mas fiz alguns exercícios e ela logo foi pro lugar. Ficou bom.  Primeiro porque essas vozes são incidentais, e pude experimentar bastante coisas. As melodias são simples e não há letra pra articular, por isso pude procurar timbres diferentes e efeitos. O ambiente silencioso me deixou muito concentrado e favoreceu a criatividade.

Salvei a agora vou comer alguma coisa.

 11:00 Essa pausinha veio a calhar. Tomei apenas um suco de uva com semente de linhaça e granola e depois li um pouco de jornal. No Globo uma materia sobre a FLIP (Feira Literária de Paraty) destacou o concorrido debate dos escritores Milton Hatoum e Chico Buarque. Chico, pela primeira ve,z falou de seu novo livro, Leite Derramado, que comecei a ler, depois emprestei e ainda não recebi de volta. Nas poucas páginas que li pude perceber a excelente construção e delicadeza dessa obra buarquiana que vem sendo apontada como sua melhor incursão no terreno da literatura. Eu já havia lido Estorvo (que achei meio chato) e Budapeste que me agradou muito. Na época do lançamento desse livro, eu costumava jogar futebol no campo do Pollyteama no Recreio e num daqueles dias voltando de carona com o Chico contei-lhe que havia lido Budapeste numa tarde de sábado. Ouvindo isso, ele lembrou de uma vez que Vinicius lhe dissera que quando alguém lê um livro muito rápido é, ou porque é muito bom ou porque não tem consistência. Respondi-lhe que naquele caso a leitura dinâmica se devia às boas qualidades do seu livro.

11:10  Preciso voltar ao trabalho.

 

14:30 Enviei por MP3 o trabalho de hoje pro pessoal que está em São Paulo, para que eles testem nas cenas e me passem suas impressões. É muito bom trabalhar em parceria com pessoas em quem se tem confiança. Um sustenta o trabalho do outro como as pedras de um arco. Isso me faz voltar ao assunto do começo do post, Italo Calvino e suas Cidades Invisíveis.

Num trecho do livro, “Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há o arco.”

 14:42 Vou almoçar e passo por aqui antes de acabar o dia

21:12  Depois do almoço passei numa festa junina que estava rolando na Dias Ferreira, no Leblon, em frente a Livraria Argumento. Encontrei vários amigos, troquei alguns dedos de prosa, passei no supermercado e voltei pro estudio. Oraganizei a gravação, preparei partituras, salvei como PDF e enviei por e-mail para os músicos que vão gravar. Agora estou fechando a tampa e pretendo aproveitar um pouco a noite de sábado pra relaxar.  Dei um duro danado essa semana.

Antes , conforme  prometi, vou passar uma receita que será bem simples, dado o avançado da hora e também porque hoje é nossa primeira aula (rs).

Salmão com molho de maracujá e mel

Ingredientes

A quantidade dos ingredientes variam  com o número de pessoas.. Geralmente aplicam-se 200g de peixe por pessoa quando a refeição vem com acompanhamento.

800 g de Salmão (para 4 pessoas), sal, pimenta branca moída / 2 maracujás  / 4 colheres de sopa de mel de abelha puro.

Pulverize o salmão com sal fino e pimenta do reino,  Aplique esses temperos com bom senso. Logo após  banhe o peixe com o suco dos maracujás e deixe descansar por 20 minutos  pra pegar o gosto. Enquanto isso, acenda o forno a uma temperatura de mais ou menos 180 ºC  e quando ficar aquecido,  cubra o peixe com uma camada de mel enrole no papel alumínio e deixe assar por cerca de 20 a 30 minutos. Cuide para que fique levemente esbranquiçado por fora, mas úmido e vibrante por dentro. Sirva com arroz branco perfumado com salsinha e batata a vapor. Harmoniza bem com vinho Sauvignon Blanc.

 Bom apetite.

Bom fim de semana.               

Abraços.

PS> Os olhos do Chico brilham até em foto P&B

18 comentários:

Luan Santos disse...

A cada dia que passa a ansiedade aumenta para com este filme e para o lançamento do CD. Ler um post de Villeroy é assistir a uma aula e literatura com direito a salmão no final rs.
Cada post se torna um amontoado de idéias e pensamentos que fazem com que amanhã eu volte e veja mais um.
Mais que um cantor e compositor, você demonstra ser 'gente fina'. Ao meu ver, grandes artistas se fazem de talento (principalmente, é claro) e carisma, humildade.
Parabéns e sucesso!
Ah! 04 de JULHO e as festas juninas AINDA continuam no Rio?! Nem mar, nem sertão, "O Rio vai virar Nordeste e o Nordeste vai virar Rio" Rs...
Vlw!

Hannaly Oliveira disse...

Oi tonho!

Li Budapeste há uma semana e ainda tô em transe. Antes dele li Amores Possíveis, O que havia esquecido de contar..(impossivel não pensar em você!)

Budapeste, logo no início, me prendeu mais do que Benjamin, que leio agora. Pretendo ver os filmes logo após a jornada 'Buarquiana' que encerro com Benjamin por enquanto. Ler vezes seguidas o mesmo autor pra mim não é legal.

Aliás, quem pensa que vida de artista é fácil quebra a cara por aqui hein? :-O

Aula de culínária? Geeeeeente, o cara ainda cozinha!! Arrasou, rs

Legal a idéia dos horários, saber do seu cotidiano *-* delicia! E cadê o senhor Villeroy no Twitter?


Beijones

Kiana_Nurse disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kiana_Nurse disse...

Aii Totonhooo
essa receita me deixou com agua na boca xD Amo peixe,e salmão entao...nem vou dizer rsrs

Adorooo Chico,mto bom o livro Budapeste,qro mto ver o filme,mas aki na minha cidade,nao estreou no cinema [aki só tem 2 cinemas] o.O

É um prazer ler tudo isso,

e sim,FESTA JUNINA no Rio?
Nossa,fiquei surpresa hehehe

e Olhe q aki no nordeste,é só o q tem durante o mes inteiro heheehe
mas,no Rio foi inusitado hehehe

xerãooooooo de sua fã potiguar

ps.: Não fui a primeira,mas fui a terceira,Hanna qse posta igual aki rsrs,hehehe Da próxima consigo chegar cedo hehehe

Antonio Villeroy disse...

Pois é Luan essas festas no Rio adentram julho. "Junina" de deixou de ser um atributo de junho para se tornar sinônimo de festa com barraca, quentão, bigode de carvão e forró.

É verdade que a influência do Nordeste é grande no Rio, devido principalmente à grande presença de nordestinos na cidade. Por outro lado o Rio influencia o Brasil inteiro com suas novelas, suas modas, gírias, sua presença constante no imaginário dos brasileiros e dos estramgeiros que vêm pra cá.

A literatura sempre foi importante pra mim. Quando aprendi a ler devorava os livros de Monteiro Lobato e outros de aventuras como Os Três Mosqueteiros (Alexandre Dumas) e Robinson Crusoé (Willian Defoe), que li umas três vezes.

Quando tinha 8 para 9 anos, escrevi um livro, As Aventuras de Zeca Morainho, que meu pai levou pra São Paulo pra mostrar a um editor e acabou perdendo os originais.

Obrigado pelo "gente fina". Não me sinto uma pessoa humilde, essa é uma das qualidade mais difíceis de se cultivar. O que acontece é que nunca perco o foco nas coisas verdadeiras, no gesto humano, no olhar sincero, e procuro valorizar a essência, descartando o que é superficial.


Hannaly, essa história de ghost writer que tematiza Budapeste é real. Tenho uma amiga que que foi convidada a escrever um livro assinado por uma pessoa famosa. Ela só não pode dizer quem é.
Tô no Twitter, mas ainda não to usando. É muita coisa!

Kiana, vou te fazer uma pergunta boba: Nursing é seu sobrenome ou é um nick que você adotou pelo fato de ser enfermeira?

Sempre que leio seu nome, lembro de um trecho da música Penny Lane de Lennon e McCartney

"Behind the shelter in the middle of the roundabout
A pretty nurse is selling poppies from a tray
And though she feels as if she's in a play
She is anyway"

Bom domingo a todos.
Acho que hoje não terei tempo de postar, porque vou passar o dia no estúdio. Se não chegar muito tarde, prometo escrever algumas linhas.

Abraços

Veluma Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Veluma Nunes disse...

Nossa Totonho , eu viajo aqui nos seus posts, e o melhor de tudo é que dou um passeio com direito a culinária e tudo. rs , Minha mãe disse estar anciosa pra fazer o salmão e como não como frutos do mar infelizmente não vou provar.
As cidades invisíveis eu já li e
Ver 55 cidades( se eu não estiver enganada)deixando o conceito geográfico para se tornar o símbolo complexo e inesgotável da existência humana é uma coisa realmente fascinante.
Já os outrs livros citados eu não tive a oportunidade de ler, mas confesso que fiquei muito curiosa.
Beijos !

Jan Reis disse...

Nossa, Antonio!!! Vou fazer esse salmão e depois lhe digo.
Adoro seus posts e, ao ler sobre a sustentação do arco, não pude deixar de dialogar com Clarice Lispector, quando ela diz que "devemos ter muito cuidado quando tentamos nos livrar dos nossos defeitos, pois nunca sabemos qual o defeito que nos sustenta". Nada a ver, mas tudo a ver.
Bjs.

Hannaly Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hannaly Oliveira disse...

Eu acho meio injusto, mesmo que o verdadeiro autor possa ganhar uma boa(!!!) grana, penso que ver alguém levar alguém levar seus créditos deve ser dolorido, assim como foi pro [i]José Costa[/i]. Minha professora de violão fez uma música de sucesso pra alguém há anos atrás, nessas mesmas condições e não conta nem sob tortura, acho que me deixar curiosa é mais injusto ainda. hahaha.

Nem temos o direito de te pedir um Twitter, vc supre todas as nossas necessidades por aqui, Twitter seria apenas um bônus.

(Esse olhos do Chico.. aiai.. como diz o Manoel Carlos em 'A arte de reviver 'o cara tem um borogodó!')

Beijones

Kiana_Nurse disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BABI CASTRO disse...

Totonho, concordo plenamente com você, humildade é algo dificil de ser cultivado, mas discordo quando tu falas que não é humilde, aliás, os mais humildes jamais admitem serem humildes. rs...

O Luan Santos está certissímo quando diz que " ler um post de Villeroy é assistir a uma aula de literatura",e posso até estar enganada, mas seu carinho transborda entre palavras, além de tudo esta 'aula' é prazerosamente gostosa.

Um grande beijo, fica com Deus e aguardo ansiosamente o próximo post.

Fernanda Garcia disse...

Ahh Budapeste é um ótimo livro,quem não leu,deve ler!Li ele num fds e no outro reli..Acho bom ler mais de uma vez um mesmo livro,acabamos por prestar mais atenção e nos lembrarmos dos fatos q estão nas próximas págs!
Pena que meus amigos não são mto fãs de leitura(=/ )ai não tenho com qm comentar!
Mas né,eles não sabem o q perdem!

BeijO Villeroy!

Kiana_Nurse disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kiana_Nurse disse...

Oi Totonho!

É,respondendo sua pergunta,é pelo fato de ser enfermeira mesmo!E sua pergunta não é nada boba.Amoo de paixão minha profissão,fazia outro curso Serviço Social e larguei na metade,e dpois q comecei na enfermagem descobri minha verdadeira vocação,e graças a Deus trabalho onde quero seguir minha carreira,em uma maternidade,vou fazer especialização em obstetricia e neonatologia,p mim,o nascimento de um novo ser é um momento sublime da natureza,a cada parto q ajudo a nascer um bebê,eu me emociono rs e olhe q durante cada plantao,são vários rsrs

Adoreiii a citação da música dos Beatles "Penny Lane",

"A bonita enfermeira vendendo papoula em uma bandeja
E embora ela sinta como se estivesse em uma peça
Ela está mesmo"

Trecho cheio de metalinguagens,onde a papoula tanto serve cmo planta medicinal cmo ópio...aberta a várias interpretações,não é atoa q os Beatles são q são...Me senti lisonjeada com sua lembrança!!!Vlw Totonho =D

Ps.: Os olhos de Chico,nossa,sem comentários rsrs
Eles ofuscam aonde passam...
O homem além de ser um gênio da música,ainda nasce com esses olhos hehehe é p matar ne?huahuahua

xeraooo de sua fã potiguar

Anônimo disse...

Dimas,
Quanto tempo. Vir aqui foi bom...soube um pouco dos seus projetos e é claro, de ti.
Estive em POA mês passado. Me prolongamos até Novo Hamburgo, Nova Petrópolis, Gramado, Canela, Carlos Barbosa, Garibaldi, Bento Gonçalves, Tuyuti, Farroupilha. O Sul é maravilhoso.
Assistimos também um concerto da OCTSP. Muito bom!
Saudade. Beijos, Dimas.

Anônimo disse...

Dimas,
Quanto tempo. Vir aqui foi bom...soube um pouco dos seus projetos e é claro, de ti.
Estive em POA mês passado. Nos prolongamos até Novo Hamburgo, Nova Petrópolis, Gramado, Canela, Carlos Barbosa, Garibaldi, Bento Gonçalves, Tuyuti, Farroupilha. O Sul é maravilhoso.
Assistimos também um concerto da OCTSP. Muito bom!
Foi uma viagem de 10 dias. Inesquecível!
Saudade.
Beijos, Dimas.

Luiz Araújo disse...

pesquisava na google a conversa do livro de italo Calvin entre Kublai Kan e marco Polo sobre o arco e a pedra e dei com o seu blog. Li um pouco e gostei de ficar a saber que continua activo.

Gosto da sua musica e especialmente o saúdo pela mensagem de libertação de alguma dela está impregnada

Desde Angola um abraço

ps- anote que o endocolonialismo mora cá agora mas um dia vais sair de cima porque a LIberdade continua a crescer e, naturalmente, é letal para a ditadura. Um dia Angola vai ser um lugar bom para todos vivermos e nesse dia gostaria muito que venha cá cantar outra morena de Angola.
www.angolaresistente.net