quinta-feira, 27 de outubro de 2011

RECUERDOS



vô Zeca
Tenho saudades de meu pai, de meus avós, de alguns amigos que já não estão aqui.
Mas muitas vezes usamos essa palavra na falta de outra para expressar uma cara lembrança, algo que ficou guardado com carinho no ninho dos afetos.

Lembro de, aos 7 anos de idade, ter contraído caxumba e ter permanecido na casa de minha avó, porque na casa de meus pais já padeciam minha mãe e um de meus irmãos. Foi um surto daquela doenca na cidade que pegou todo mundo na minha família, exceto meu pai, porque já a havia contraído em sua infância.

O quarto em que fiquei era contíguo ao de meus avós. A janela ampla inundava o ambiente de luz e dava para um lindo jardim, com rosas, margaridas, hortências, jasmim, mimos de vênus e muitas outras flores.

Encostada na parede daquela janela, ficava a máquina de costura de minha avó e, às vezes, ela passava um pedaço da tarde ali, costurando.

Assim como também fazia doces e cuidava das plantas, ela costurava, tricotava e fazia crochet. Em dezembro criava enfeites de natal dourando pinhas e ornando-as com laços vermelhos. Tudo por amor, para ocupar seu tempo e para proporcionar beleza, conforto e alegria às pessoas de quem gostava.

No jardim da minha avó, com irmãos, primos e tios De pé: Ângela, Tio Mário, Tia Anita, eu, Vó Maria, Carolos Eduardo. Agachados: Gastão, Lúcia, Didito, Lívia, Helena e tia Dedé

Não trabalhava para fora, meu avô tudo provia, isso era o mais natural no tempos em que se casaram, naquela região dos pampas, onde se situa São gabriel, a cidade onde nasci.

Durante aquele período da caxumba, ela tricotou uma boa parte de uma manta colorida que deu para minha mãe. Enquanto ela se ocupava em seus afazeres, eu lhe fazia perguntas e aprendia com sua natural sabedoria.

Lembro de, alguns anos antes, eu ter visto, em uma cômoda daquele quarto, uma imagem em sépia do Cristo crucificado, visto de longe em um dia nublado, a atmosfera carregada de chumbo, como deveria estar o Monte das Oliveiras naquele dia fatídico que nos conta o Novo Testamento.

Ao ver essa foto, perguntei para minha avó quem era aquele homem ferido, com os braços esticados em uma cruz. Ela respondeu que era um homem muito bom que fora morto pelos soldados romanos.

Eu devo ter feito muitas outras perguntas, mas minha memória reteve essa parte que me pareceu suficientemente importante. A imagem de um homem bom em um dia cinza, morto pelos soldados. Então esses soldados eram maus, com certeza!

Meu avô, que acordava pelas 5 da matina, costumava tirar um cochilo antes do almoço. Enquanto convalescia, no quarto ao lado ao seu, eu costumava ler para ele em voz alta alguns assuntos que versavam em uma enciclopédia que eu e meus irmãos havíamos acabado de ganhar.

Eu lia sobre os minerais, o que era o feldspato, o talco, a mica. Sobre as reservas de carvão e petróleo, como se extraía o ferro, como se fundia o aço.

Também gostava o capítulo dedicado à Via Láctea e ao nosso sistema solar, a descrição dos planetas. Atraíam-me, especialmente, os anéis de Saturno e as cores de Júpiter, um planeta gasoso com composição semelhante à do sol.

Em outro volume, havia um longo capítulo dedicado aos dinossauros, com ilustrações do diplodocus, do tiranossaurus rex e do triceratops. Era um convite à imaginação ler sobre aqueles répteis imensos que um dia reinaram sobre a Terra.

Meu avô, assim que deitava, me pedia que lesse. De vez em quando, eu testava sua atenção, falando bobagens desconexas para ver se ele me ouvia ou se havia dormido. Ele sempre reagia, em uma prova de que estava acompanhando a leitura.

Tenho isso como uma linda lembrança.
E poderia dizer: - que saudades daquele tempo!

Mas confesso que não é bem esse o sentimento. Tenho um agradecimento por ter passado por essa experiência, pelas sessões de leitura com meu avô, pela dedicação de minha avó e sua cozinheira, a Dona Maria, que, na hora do almoço, trazia uma bandeija com salada, peito de frango, arroz branco e suco de laranja. Era recomendação médica que eu comesse coisas leves, mas com substância.

Portanto, muitas vezes falamos a palavra saudade, quando, na verdade, o que está se manifestando são sentimentos vizinhos a esse.

Os sentimentos são como uma complexa palheta de cores, com nuances intermediárias e não devemos tomar o azul celeste pelo cobalto nem o rosa pelo vermelho.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

SAUDADES




Tu me manques, na tradução literal, você me faz falta, é a forma de os franceses e demais povos francófonos expressarem as saudades que sentem de alguém. Não existe uma palavra específica para isso na lingua francesa. A que mais se aproxima é nostalgie, que já tem seu correspondente, nostalgia, em português.

Em italiano se diz “tu mi manchi”, com a mesma conotação do francês.
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I miss you, diria-se em inglês. Sendo que a palavra “miss” também contém em si o significado de perda. Portanto, assim como se traduz por “eu sinto sua falta”, poderia, em um caso mais extremo, ser a tradução de um sentimento de algo perdido: eu perco você; sinto que estou lhe perdendo.

Em espanhol, uma das maneiras de comunicar esse sentimento a alguém é dizendo: Yo te extraño. Sendo que a tradução literal para o português da palavra extraño é estranho. Então a falta, para os que falam a lingua de castella, pode ser sentida como uma espécie de estranheza. Mas minha amiga Cami, que mora em Barcelona me ensinou a dizer "te echo de menos" , que é como se fala mais informalmente da falta que alguém nos faz. A palavra mais próxima a saudade na lingua castellana é añoranza.

Mas durante muito tempo. ouvi falar que saudade é uma palavra que só existe em português e que, portanto expressa um sentimento tipicamente lusófono. Aqui nos trópicos, com certeza saudade adquiriu novas cores. Não basta apenas a palavra, pois que ela é um signo morto se não há um espírito a vivificá-la. E nossa maneira de viver as coisas é bem diversa da de um europeu.

Os africanos, ao chegarem às Américas na condição de escravos, sofriam de um sentimento denominado Banzo. Banzo é mais do que saudade. É uma dor específica gerada pela perda de muitas coisas. Um estranhamento de uma terra e uma condição novas que não foram frutos de uma escolha. Perderam sua liberdade em primeiro lugar, foram, por assim dizer, privados do seu livre arbítrio.

Distanciaram-se de suas famílias, amigos, costumes, comidas, cheiros, gostos, cores, animais, perigos, pores de sol, para virem aqui servir de maneira forçada tendo sua dignidade ofendida.

Portanto o banzo é um sentimento resultante de uma perda, de uma falta, de uma nostalgia, de uma estranheza, de uma saudade. O banzo abarca todas as palavras que possam expressar esse vazio que em cada lingua encontramos parcialmente expresso de uma forma.
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Muitas vezes encontro um(a) amigo(a) e, ao abraçá-lo(a) percebo que sentia saudades daquele abraço, daquela voz, daquela pessoa. E essa saudade muitas vezes inclui situacões vividas em comum, mas que estavam adormecidas até o momento daquele encontro, quando são ativados uma gama de sentimentos, que me levam a dizer: - que saudade.!
Ou - eu estava com saudades de você e não sabia.

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A e B foram namorados durante 2 anos. Depois de separados mantiveram uma distância regulamentar, para se preservarem, mas sem hostilidades. Ambos tiveram novos casos, novos amores ou quase isso.

Um dia B envia um torpedo: - Saudades.

O que isso quer dizer, pergunta-se A? Por que essa mensagem agora? Será que ele(a) ainda gosta de mim? Será que voltou aquele sentimento?

E A investiga em si mesmo(a) o que sobrou daquele amor, se ainda teria desejo, se teria forças para recomeçar. Pensa no que pode haver de bom e no que pode haver de embaraçoso em um reencontro, em um beijo ou, ao se verem, novamente nus, um diante do outro.

Mas percebe que também sente saudades e, depois de muito pensar, responde: - Saudades também Beijos.

B a principio, diante da demora em obter uma resposta, arrepende-se de ter enviado aquela mensagem. Depois pensa que foi sincero(a) e que isso foi bom. Afinal também não sabia que espécie de saudades sentia. Apenas sentia. Mas não queria que A pensasse que ele(a) estaria pleitando uma volta ou nem mesmo um reencontro. Os dias se passam e não se vêem mais, e aquela saudade de vez em quando volta a dar seus sinais.

Às vezes, a saudade que sentimos não é exatamente de alguém, mas de uma situação ou um conjunto de situacões. Muitas vezes essa saudade é de nós mesmos. Do jeito que éramos em um determinado momento.

Saudades de tudo, de certas manhãs, de uma luz incindindo na cama, de uma inocência, da forma de sentir o amor, da posição que ocupávamos na vida de alguém, da importância que nos era dada.

Muito egoísta? Sim talvez ... Mas quem sabe essa não seja a forma mais honesta de se pensar, pois não tenho nenhuma certeza sobre o outro.

O outro é alguém que, de certa forma, inventei. Sim, existe de fato essa pessoa que é feita de presenças e ausências, que me abraça e se afasta, que tem um cheiro, que beija do seu jeito, que tem gosto, que divide momentos, que me conta suas coisas, que me dá carinho e me traz problemas e soluções.

Mas sei que muito desse outro foi construído antes em mim e depois projetado em outra pessoa. E, em um dia em que ela se mostrar em desacordo com minhas expectativas, corro o risco de dizer:
- você me decepcionou!

Mas como posso atribuir ao outro algo que eu mesmo inventei?

O ingênuo, o desavisado, muitas vezes não sabe que está inventando, e caba acreditando em sua própria fábula, pois que o outro parece dar todos sinais de que realmente é daquela forma. Mas, muitas vezes, é apenas um desejo tão grande de encontrar aquilo que chama de “minha cara metade” que não consegue enxergar as coisas de outra maneira.

Às vezes isso ocorre dentro de um acordo tácito. Cada um sabe o quanto está inventando e sendo inventado pelo outro. E deixa isso ocorrer e cumpre o seu papel, muitas vezes por querer corresponder, porque também precisa de alguém, porque se julga capaz de ser daquela forma, pelo menos por um tempo, até que as coisas tomem outro rumo, até que o amor seja incontornável e fale mais alto, até que tudo se defina ou que definhe.

Freud dizia que uma pessoa só tem duas possibilidades de amar: ou a quem lhe cuida ou a si próprio.

Quem ama a quem lhe cuida vai procurar uma pessoa com esses atributos para a ela se aninhar, projetando nessa pessoa as qualidades de protetor, de provedor, de compreensivo, de pai, ou de mãe e, se tiver a sorte de encontrar uma pessoa que tenha naturalmente essas características, poderão ambos desfrutar de uma relação complementar que seja duradoura. Em caso contrário, alguém sairá extenuado por falta ou por excesso.

Quem ama a si mesmo, vai procurar alguém que corresponda ao seu narciso. E que deverá ser, não um provedor, mas uma pessoa com qualidades estéticas ou intelectuais, ou quaisquer outras que correspondam à imagem que aquela primeira tem de si mesma.

Partindo desse princípio é que se criam as tais projeções de que falei acima.

Mas não quero me estender sobre os esquemas freudianos, até porque não refleti o suficiente a respeito para tirar alguma conclusão.

Voltemos então às saudades de A e de B.

Ambos a sentem, mas ambos também temem que sua saudade seja mal interpretada.

- E seu eu convidá-lo(a) para uma caminhada,para um jantar, para tomar um vinho, será que vai pensar que estou tentando reconquistá-lo(a)? Por que me privo da amizade de alguém a quem quero bem apenas para não incindir em riscos de ser mal interpretado?

É tão bom quando essas coisas ficam totalmente resolvidas. Talvez uma caminhada, um suco, um café pudessem levar a uma conversa em que essas coisas ficassem, de uma vez por todas, resolvidas.

Mas A ou B, pensam que pode até soar grosseiro dizer: - Ei, tenho saudades de você, mas não projeto que a gente volte a ser um casal, nem que tenhamos um revival.

Tenho saudade da pessoa, do sorriso, das conversas, das opiniões, da amizade, da cumplicidade. Mas não tenho saudade do namorado(a), do marido (esposa). Como colocar essas coisas em prática? O melhor é que coloquemos enquanto temos tempo para isso.

E enquanto essa saudade não é saciada cantemos com Peninha: Saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio …

VOLTANDO À CÂMERA



Atendendo a pedidos de pessoas que me lêem no Facebook, voltarei a publicar meus textos aqui no Blog. O primeiro, ee um texto recente que escrevi sobre o ciúme. Obrigado a quem frequenta essas páginas.





Em francês é Jalousie; em inglês, jealousy; em italiano e catalão, gelosia; espanhol, celos; alemão, Eifersucht; russo, ревность: chinês, 妒忌; japonês, 嫉妬; grego, ζήλια; Latin, inuidiam.
Existe em todos idiomas, portanto todos sentem, mesmo os que dizem não sentir. Há tantas frases, livros e canções à respeito. Bentinho sentia por Capitu, Félix por Lívia, apenas para citar personagens machadianos....

Lupicínio Rodrigues foi mestre em um gênero cujo assunto principal era esse. Caetano fez, no mínimo, 3 canções falando à respeito.

Mesmo quando não há nada que o justifique, ele pode ocorrer, fruto dos fantasmas de quem o sente, produção independente de coração e mente inseguros, ou machucados, ressabiados, ou por outras motivações que são inúmeras e não se poderiam listar aqui.

Muitas pessoas o provocam, o estimulam em si ou no outro, como a acrescentar um tempero, como um aditivo para retomar o interesse, para esquentar uma relação que estava fria.

Muitas vezes funciona, embora seja um mero artifício que não tem necessariamente a ver com o real interesse e menos ainda com aquilo que aproximou aquelas pessoas, principalmente se se trata de amor.

Mas nem sempre é o amor, às vezes são outros os porquês a aproximar duas pessoas, ou pelo menos uma delas em direção à outra: família, desejo, dinheiro, posição, poder, evidência, carência, aparência, desordem, organização, etc etc etc

Mas , seja como for, o ciúme pode ser brando e até auxiliar a criar e pode ser devastador e destruir, mas ele sempre dá um jeito de se manifestar.

X não gostava (ou pensava não gostar) mais de Z, até sentir ameaçada sua posição, sua confortável posição de ser muito amado(a) e até mesmo sufocado(a) por uma pessoa por quem não parecia nutrir os mesmos sentimentos.

Então, pimba! Percebe ou pensa perceber que aquela pessoa poderia interessar ou estar interessada por uma terceira. Diante da ameaça da perda acende-se uma fogueira onde o amor parece crepitar. Mas até que ponto não é apenas posse, auto estima, coisas voltadas para o amor próprio e não pelo outro?

Não tentemos concluir, esse não é assunto em que se possa chegar a uma conclusão. Apenas cantemos:

O mainha, deixa o ciúme chegar, deixa o ciúme passar e sigamos juntos …

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fora da Ordem






Com os atuais acontecimentos do Rio, vejo muita gente enviando mensagens de SOS para o Capitão Nascimento.

Pois é, foram subtrair aos “bandidos” o seu sustento, expulsá-los do seu habitat sem dar nada em troca, nem mesmo uma indenização ou pagamento pelo ponto, deu no que está dando.

Ironias a parte, eu já pressentia que as ocupações das favelas pelas UPPs e expulsão dos comandos de pontos estratégicos dos tráfico no Rio não iam ficar tão baratas.

Não só pela perda do negócio pelos chefes das bocas, com todo o prejuízo financeiro somado ao achincalhamento, desmoralização e tom de desafio que isso representa. Mas, acima de tudo, porque há políticos e ricaços no Brasil, na América Latina e nos EUA que não querem perder a teta brasileira do mercado de drogas.

E, por trás disso tudo, há o tráfico de armas, que incita e é sustentado pelo das drogas e que inclui, em sua rede, figurões dos altos escalões politicos e econômicos de vários países.

É aí que reside a origem de toda essa violência. Se não fossem as drogas, seriam querelas religiosas, disputas de fronteira ou qualquer outro tipo de tensão que pudesse gerar consumo de material bélico.




Há aí duas grandes redes que se retroalimentam e vivem do sangue sugado de nossa juventude.

Portanto, essa inesperada união das facções do Rio, se está mesmo ocorrendo, a meu ver, é algo orquestrado de cima.

Ninguém quer discutir a liberação nem mesmo da maconha, não só por questões morais, de saúde ou ordem religiosa, mas, sobretudo, porque há um lobby de tubarões graúdos contra a discussão do tema.




A canalha que organiza esse festim não pretende pagar impostos sobre os seus produtos, É preferivel que o mercado ocorra na clandestinidade, como nos tempos da lei seca americana com seus gangsters elegantes.

Aqueles meninos descamisados com armas na mão são apenas o peixe pequeno, a bucha de canhão, os desafortunados buscando reconhecimento e um lugar na sociedade, e que se não é a nossa, que seja uma outra, paralela, por eles soerguida.

O que hoje se vê, embora não pareça, é uma luta por um lugar ao sol de pessoas que a civilização branca organizada de forma injusta relegou a um plano inferior, bem inferior.

É como tapar um vulcão com tapete, por isso tanta violência.



Há um livro do Tarso Genro, escrito nos anos 1980 ou 90 com o título, Socialismo ou Barbárie, inspirado com certeza nos pensamentos da Revista do grupo Francês Socialisme ou Barbarie criado em 1949 por dissidentes trostkistas.

Naquele volume, Tarso já previa os atuais acontecimentos.

Não há como forjar a construção da identidade de um país nem a identidade individual de cada cidadão conectada ao sentimento de pertencimento a uma nação, excluindo desse processo uma parcela tão significativa de sua população como aconteceu no Brasil e tratando esses excluídos como párias, sufocando as suas possibilidades de participação,represando suas energias produtivas e também sua sede de compensação, de reconhecimento e de satisfação de seus desejos e suas alegrias sem que um dia essas energias represadas acabem por derrubar os diques que as contém.



Queremos paz sim, queremos um Brasil melhor, queremos terminar bem esse ano e começar melhor o próximo. Queremos despoluir os rios, resolver os problemas habitacionais, de alimentação, educação, cultura, saúde e transporte. Queremos esporte vitorioso com Copa do Mundo e Olimpíadas seguras e bem sucedidas.



Mas esses caras também querem um lugar para viver e precisam, como qualquer pessoa, ter o reconhecimento de seus desejos e de suas individualidades. Querem ganhar bem. adquirir bens, almejam uma ascencão social e muitos a obtém na escalada das hierarquias do tráfico.

Essas possibilidades de certa forma, mantinham o crime no Rio sob determinadas regras e portanto não havia uma violência tão disseminada.

Mas é lógico que não poderia durar muito tempo uma situação assim, baseada em um mercado ilícito, mesmo que, por trás dos seus mecanismos, opere uma outra rede ainda pior e mais poderosa, com alvará e endereço oficial em grandes avenidas do mundo, que é a rede do tráfico de armas, essa sim o foco principal, onde até mesmo agências de inteligência parecem estar envolvidas.



Acontece que surgem agora novos interesses que não são compatíveis com o panorama atual e que incluem, entre outras coisas, o futuro promissor do mercado de imóveis que já se anuncia em decorrência dos eventos esportivos vindouros, com uma inevitável visada em direção aos morros do Rio onde se encontram as melhores vistas da cidade,

É lá que os comandos vem operando nas últimas décadas. E é de lá que agora precisam ser enxotados, dando início a uma provável “limpeza” do terreno.

Por isso, uma das primeiras perguntas que me ocorre é:

-  Se pretendem fazer esse tipo de operação, onde, em que espécie de aterro, os governos estão pensando em assentar os pobres que hoje habitam as favelas da Zona Sul?

Não há como varrer a miséria como fez Lacerda e outros governantes de outrora, jogando os pobres na Baixada, na Cidade de Deus e outras periferias.

Hoje o buraco é mais embaixo, a população é maior, mais reativa e encontra-se armada. Talvez haja um erro de avaliação nas estratégias de Cabral, Paes e Lula a esse respeito.



Não estou, de forma alguma, colocando- me do lado do crime, mas sim analisando a questão com distanciamento e tentando abordá-la da forma mais ampla possível.

O que está acontecendo agora, para os “bandidos” talvez tenha o sabor de uma revolução, mesmo que eles não possuam conhecimento do significado dessa palavra. Mas não esqueçamos que sua organização se deve a orientações recebidas de presos políticos nos anos 60 e 70 do século passado.

Aquelas torturas, por todos eles sofridas nos porões da ditadura, de certa forma, também emergem agora. Há toda uma violência gerada e contida que nesse momento quer recair sobre a sociedade que a produziu.

É importante ter isso em vista.

Mas, o mais importante, a meu ver, são os interesses internacionais, os caras que estão por trás disso e que não sujam as mãos, não vendem, mandam vender, não matam, mandam matar.

- Por que será que as informacões da polícia vazam?

O Capitão Nascimento pelo qual clamo agora é o do segundo filme. Aquele que nos traz uma conscência maior sobre o que está acontecendo e não apenas o combatente matador.

Há que se tratar a questão com energia, mas também há que se pensar em alternativas, em programas para o futuro que não permitam que esse mal continue crescendo.

Por outro lado, a Globo passou o dia transmitindo o conflito ao vivo e os repórteres não conseguiam entender por que a polícia não havia agido de forma mais efetiva quando um grupo de cerca de duzentos "miseráveis do tráfico" fugiam a descoberto numa estrada que liga as favelas do Cruzeiro e do Alemão.

Parecia haver no ar um desejo de chacina. E muitas pessoas queriam assistir a esse massacre em direto, como se fosse um reality show, independente da impressão negativa e da consequente banalização da violência que isso poderia causar.

Ao ser entrevistado um comandante do Bope falou que possuiam uma estratégia definida e que a polícia só abriria fogo se fosse atacada.

É importante lembrar que é preciso cautela nessas ações, que devem-se evitar vítimas inocentes e, sobretudo que devem-se respeitar os direitos humanos. Até mesmo numa guerra convenções e limites devem ser observados.

Ontem assisti ao Comandante aposentado do Bope Rodrigo Pimentel (que inspirou o filme Tropa de Elite) comentando na TV as operações na Polícia durante a ocupação da Vila Cruzeiro.

Lúcido, ponderado, o ex capitão passou firmeza.

Já repararam na semelhança que há entre ele e o Capitão Nascimento?

Isso atesta o excelente trabalho de Wagner Moura e a escolha acertada do diretor José Padilha ao chamar o ator baiano para o papel principal de seus filmes.


Reparem nas fotos abaixo:







Hoje o Comandante Paulo Henrique falou que as ações de captura dos bandidos devem seguir uma estratégia onde haja um número mínimo de vítimas.

É isso aí. Não podemos cair na barbárie.

Abro para o debate na esperança de dias melhores.

Enquanto isso, vou meditar e pensar positivamente para que nossas idéias se iluminem e nossos corações se tornem mais generosos.

E que os meninos achem as trilha nos trilhos de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro.

Namastê.