
Tenho andado afastado aqui da Câmera. Os trabalhos realativos à produção de meu disco e a realização de Festival Cantautor no Cinemathèque estão absorvendo quase todo meu tempo. Quase não tenho pedalado, quase não tenho lido, mas tenho me valido do Facebook e Twitter para a troca de informações, por serem esses dois meios as formas mais instantâneas de interatividade na rede.
Em consideração aos meus leitores que não circulam por nenhum desses dois mencionados portais, vou aproveitar um tempinho que tenho agora livre para dar um apanhado de tudo o que está rolando.

O DISCO
Ainda sem nome definido, comecei a gravá-lo no dia 4 de janeiro no estúdio da gravadora Biscoito Fino, recomeçando quase do zero esse trabalho que já estava avançado em outro formato.

Explico. Eu vinha produzindo por conta própria algumas canções que fariam parte de meu álbum novo. Fazia isso enquanto me envolvia em diversos outros projetos. Havia tomado como base para o disco o grupo que me acompanhou na tourné Além do Paraíso que realizei em 2008. Esse seria o título do disco. Já tinha umas 10 bases gravadas e algumas canções que havia finalizado coloquei no meu site oficial e no myspace.

Um dia, Joana Hime, filha de Francis e Olívia Hime, e que é uma das gerentes de produto da gravadora, depois de ouvir as canções que eu havia publicado em meus sites me escreveu: "vamos abiscoitar isso tudo?" . Achei aquilo muito simpático. Em 2006 ia lançar meu DVD/CD Sinal dos Tempos pela Biscoito, estava para assinar o contrato, quando, na véspera conheci Roberto Carlos num jantar na casa de minha amiga Juliana Broto, que vem a ser sobrinha de Maria Rita, inesqueçível amor de Roberto. Fiquei umas 2 horas conversando com o rei. Falei-lhe da minha infância, do meu encantamento da jovem guarda e de minha carreira até chegar ao meu DVD. Roberto contou-me que começara cantando bossa nova acompanhado por João Donato em uma boate de Copacabana. Depois de mútuas confissões ele e Juliana me apresentaram a Claudio Condé, então presidente da Warner, que interessou-se em lançar o disco. Acabei assinando com a Warner que me oferecia, na época, um contrato com melhores possibilidades.

No dia seguinte levei flores para Joana e duas garrafas de um um vinho maravilhoso da região de Bandol na França para Kati Almeida Braga (dona da Biscoito Fino) e Olívia Hime a diretora artística. Agora retorno à casa, ou melhor, finalmente entro para o seu cast, num momento excelente de minha carreira o que será bom para todo mundo.

Joana e eu começamos então a falar a respeito do disco. A princípio eu iria aproveitar o que já estava pronto e finalizar as músicas já começadas. Quando fechamos o contrato eu comecei a pensar o disco de uma forma diferente. Eu estava achando muito pop o que já tinha gravado e estava pensando em aproveitar as condições que a Biscoito me dava pra dar uma mexida geral e levar o conceito do disco para uma estética mais brasileira e mais acústica. Para se ter uma idéia a música Além do Paraíso nem estea mais no repertório.

Chamei Torcuato Mariano para produzir comigo. De Paris veio o percussionista Jorge Bezerra Jr, que fora integrante da banda de Joe Zawinul (um dos maiores músicos desse planeta) e que havia me acompanhado em Paris no começo de 2009. A princípio pensava em fazer o disco tendo como base um trio com baixo, percussão e eu nos violões.

Para completar esse trio, chamei o baixista Sérgio Brandão, que, há cerca de 20 anos mora em Nova Iorque e domina muito bem o rabecão acústico.

Quando começamos as gravações o disco foi tomando outros rumos, adquirindo outra sonoridade imprevista. Torcuato Mariano é um excelente músico, compositor, violonista e guitarrista, já foi proprietário de estúdio, foi executido de grandes gravadoras e produziu muita gente do pop, do rock, da MPB, do pagode, do sertanejo, do axé. Enfim um cara com muita experiência, com muito domínio de estúdio e que compreende e admira muito o meu trabalho. Foi uma excelente soma, tirou-me o peso de algumas decisões trazendo, de fora, uma visão
que foi fundamental para o novo direcionamento do trabalho.


Jorge Bezerra gravou 6 bases e voltou para Paris. Chamamos Marcos Suzano para gravar outras 5. A 12ª música a princípio não teria sessão ritmica, mas contaria com orquestra, piano e violão. Brandão arrasou no seu trabalho, complementando magistralmente o trabalho dos dois percussionistas. Bezerra espontâneo, emocional, Suzano perfeccionista, criativo e disciplinado, obtendo resultados com muita eficácia e em rápido tempo.


Convidei Eduardo Neves para fazer o arranjo de sopros de duas músicas: Felicidade do Lupicínio Rodrigues (única que não assino no repertório) e Recomeço, uma das inéditas que mais gosto do repertório. Os arranjos de Edu ficaram algo de uma beleza extrema, além de apresentarem uma personalidade muito forte, como se fossem uma releitura de uma sonoridade inserida em parte no universo das gafieiras dos anos 50, em parte ao mundo fonográfico do começo dos 70.

Esses dois arranjos levaram nossa proa em uma nova direção antes não pensada. E passamos a nortear os timbres das outras músicas levando em conta aqueles arranjos. Ou seja, o trabalho de Edu produziu, além de um resultado musical, um efeito artístico, na melhor acepção desse termo, ajudando a conceituar a totalidade daquilo que vínhamos produzindo.


E nos levou a chamar Paulinho Braga para gravar bateria em quatro músicas, incluindo a que não teria sessão rítmica. O disco foi ganhando qualidade com cellos solos e dobrados de Jaques Morelenbaum, harmônica de Gabriel Grossi, pianos de David Feldman, violões incríveis de Daniel Santiago (um de meus músicos favoritos) e de Torcuato que fez solo espanholado em El Guion e fez uma excelente lapsteal guitar em Ouro dobrando vozes com o violinista Nicolas Krassik que também fez solo na música.


Maria Gadu fez duo comigo em Recomeço. Comecei essa música para Maria gravar no seu primeiro disco. A canção marcava minha separação, tinha um conteúdo emocional importante para mim, demorei para finalizá-la e acabou não entrando no disco de Gadu. Mas eu sempre continuava ouvindo os acentos dela nas frases da canção. Não resisti e a chamei. Ficou linda e fez jus à sua gênese.

Gadu além de ser uma artista maravilhosa, cantando de um jeito genuíno, com uma assinatura inconfundível e de escrever canções ao mesmo tempo populares e de grande profundidade ee uma pessoa doce, cooperativa, que quer ver as coisas darem certo. Sabe pedir licença e agradecer e por isso também o Universo lhe é tão generoso.

Outras coisas boas ainda devem acontecer durante as gravações que foram estendidas até o dia 7 de fevereiro.
FESTIVAL CANTAUTOR

No ano de 2003, uma música de tonalidade folk ganhou as rádios do mundo inteiro na voz de Norah Jones. Comprei o disco que lançava a cantora em Los Angeles e ele tornou-se uma de minhas trilhas sonoras enquanto rodava pelas estradas da Califórnia, indo de um estúdio a outro em trabalhos de composição com músicos de lá. Um tempo depois Norah veio ao Brasil e assisti ao seu show em Porto Alegre, tendo como abertura Jesse Harris, o autor de Don't Know Why, que lhe rendeu o Grammy de single do ano em 2003, e de outras 4 canções que integravam o repertório do CD. Muita gente ficou inquieta durante a apresentação de Jesse, pois aguardavam a estrela principal da noite.

Ao ver aquilo, senti uma certa identificação com Jesse, imaginei-me abrindo um show de Ana Carolina, que já gravou 25 canções de minha autoria, num ginásio lotado. Sei que os fãs de Ana também me amam e iam me receber com tapete vermelho, mas também sei a euforia que costuma tomar conta da platéia nos shows de minha amiga. Muita gente ia ficar inquieta, apesar do respeito e admiração que sentem por mim.

Outra coisa que me chamou atenção em Jesse, era o fato dele apresentar-se sozinho com sua guitarra, cantando suas idéias e as coisas do seu coração, como um bardo, um cantador medieval, um homem que corre o mundo dizendo seus textos em forma de música.
No dia seguinte ao do show, encontrei Jesse, Norah e sua banda no aeroporto, eles vindo pro Rio eu indo fazer show em Belo Horizonte. Conversamos, presentei-lhes com um disco meu e seguimos nossos rumos.

Alguns anos depois, meu amigo Mauro Refosco, excelente percussionista que mora em Nova Iorque onde atua com David Byrne e tem uma banda com o genial Thom Yorke, do Radiohead e Flea, o não menos genial baixista do Red Hot Chilli Pepers, convidou-me para assistir a um show que faria com Jesse Harris no Cinemathèque. Ali retomei minhas primeiras impressões sobre o novaiorquino e veio-me, pela primeira vez a idéia de fazer pelo meu selo uma série que chamaria de Cantautor, jogando o foco justamente nesse tipo de artista.
Ali começamos nossa amizade, que foi reforçada com uma nova vinda de Jesse ao Brasil no ano passado, junto com outro compositor muito talentoso, Richard Julian. Entre praias, baladas na Lapa e saraus compusemos nossa primeira parceria e consolidou-me a idéia de fazer a série Cantautor em que já pensava incluir Márcio Faraco, Gelson Oliveira e outros excelentes artistas daqui e do exterior que ainda não tem uma boa distribuição no Brasil
A partir daquele momento meu tempo foi em parte dedicado à execução dessa idéia.
Finalmente no mês de novembro conseguimos acertar todos os detalhes com os artistas e a Microservice que dsitribui meu selo PIC Music e com ajuda de minha amiga, a produtora Fabiane Pereira, a Morena Coral, marcamos os shows de lançamento no mesmo Cinemathèque que havia me inspirado esse projeto. E Fabi me encaminhou uma outra pessoa sensacional, Ana Paula, que está realizando, ao mesmo tempo, com a maior competência e no melhor astral possível, as produções do meu disco e do Festival no Cinemathèque .
Ótimo local para lançamentos (foi lá que vi pela primeira vez a Gadu no palco, antes só a via aqui em casa e nos saraus do Dudu Falcão), o Cinemathèque casou perfeitamente com a idéia.
E assim começamos o festival no dia 20 de janeiro com Jesse Harris acompanhado de Mauro Refosco na percussão.
Show execelente, público numeroso e atento. Jesse conquistou até quem não entendia as letras em inglês, ganhou pelo timbre de voz interessante, pela densidade das canções, pela simpatia. Refosco foi um show à parte.

Márcio Faraco, que veio especialmente da França para o lançamento de seu disco Um Rio, que conta com a participação de Milton Nascimento, deu sequência ao festival no dia no dia 27. Ele é um bom exemplo de que boa música brasileira também se faz fora das fronteiras do país. Gaúcho de Alegrete, passou boa parte de sua vida em Brasília.
Radicado em Paris desde 1992, Márcio teve seu talento reconhecido já no lançamento de seu primeiro CD, Ciranda, em 2000, na França, com a participação especial de Chico Buarque, na música-titulo. E, por incrível que pareça, sua recente incursão nos ouvidos brasileiros se deu emfrancês: Márcio fez duo com Nana Caymmi na versão francesa de Georges Moustaki para Eu Sei que Vou te Amar, gravada para trilha da novela Beleza Pura, da TV Globo.

Acompanhado de Daniel Santiago no violão, Faraco fez seu show com o Cinemathèque lotado, e se mostrou bom de palco, simpático, divertido e carismático. Contou a origem de algumas músicas com muito bom humor fazendo rir e relaxar o público.

Os duos de violões rolaram muito bem, com frases soando em uníssono ou se complementando. No final a platéia ovacionou de pé, foi reação instantânea e espontânea.

Dia 3 de fevereiro o festival continua com Gelson Oliveira que contará com as participações de Paulo Moura e Marisa Rotenberg.
Gelson é, acima de tudo, um excelente cantor. Começou sua carreira musical aos 14 anos, quando fingia ir dormir e saía pela janela do quarto para cantar em bailes quando morava em Gramado e voltava quietinho pra não acordar seus pais um pouco antes da hora de ir pra escola. Um dia sua mãe o surpreendeu saindo, relutou mas acabou sendo convencida a deixá-lo exercer sua paixão pela música. De crooner, Gelson passou a ser compositor de suas próprias músicas. Achou os termos certos, as notas mais adequadas aos seus sentimentos.

Um dia o saxofonista e clarinetista Paulo Moura, que também é compositor e arranjador, enfim um músico incrível, viu Gelson cantando num festival de cinema de Gramado e o convenceu a vir para o Rio estudar música na Escola Villa Lobos, concedendo-lhe uma bolsa.
Gelson, que não tinha recursos para a passagem, nem mesmo de ônibus, veio de carona, dormindo em rede debaixo de caminhões em postos de gasolina. Mais uma grande aventura em nome da música.

Aqui no Rio ficou na casa de parentes e abriu um leque de amizades no meio musical. Gravou muitos jingles, trabalhou com Ivan e Lucinha Lins, fez a música tema e outras do filme O Sonho Não Acabou de Sérgio Resende. Depois voltou pra Porto Alegre, gravou seu primeiro disco. Foi chamado pra abrir um show de Gilberto Gil no Gigantinho e ganhou o cantautor baiano, que participou de seu disco Imagem das Pedras, assim como Paulo Moura.
Esse disco lhe rendeu o Prêmio Sharp (depois Tim) de Revelação da MPB .
Gelson é um de meus melhores amigos. Uma pessoa que me conhece muito bem.
Foi em sua companhia que fui a primeira vez para a Europa. Ensaimos várias semanas o show Saídas e Bandeiras, que estreou no Teatro d Reitoria da UFRGS em Porto Alegre, em meio de 1994, para um público de 1.600 pessoas. Depois passamos por Floripa, São Paulo antes de embarcarmos para a Bélgica.
Nesse primeiro ano permanecemos 6 meses e realizamos 44 apresentações em cidades da França, Suíça, Italia, Austria e Alemanha.
Voltamos algumas vezes juntos para shows no continente europeu. Outras vezes Gelson foi com sua banda, em duo com o trombonista Julio Rizzo e em shows solo.

Seu mais novo trabalho fonográfico, Tridimensional, que está sendo lancado pelo meu selo, recebeu altos elogios de seu parceiro Gilberto Gil que escreveu um lindo texo que termina assim:
" Agora, Gelson lança mais um disco feito com alguns dos seus incontáveis amigos músicos e admiradores da cena portoalegrense. Mais uma série elegante de suas composições tão sóbrias e vibrantes quanto envolventes e cativantes.
Vai aqui o meu afetuoso entusiasmo para com mais este generoso presente que o meu querido irmão nos regala.”
Quem quiser participar da lista amiga para o show de Gelson, por favor envie os nomes para
apaula2009@hotmail.com
Resumo dessa primeira edição do Cantautor:
20/01 – o americano Jesse Harris
27/01 – o gaúcho residente na França, Márcio Faraco
03/02 – outro gaúcho, Gelson Oliveira
Em abril lanço meu novo disco.
Em maio o festival Cantautor volta ao Cinemathèque para os lançamentos dos discos de
Diana Tejera (excelente artista romana parceira de Chiara Civell0), Richard Julian (já citado novaiorquino da troupe de Jesse), Nelson Coelho de Castro (brilhante artista, mestre das palavras, meu grande parceiro, morador de Porto Alegre) e Leo Minax (mineiro que vive em Madrid e é parceiro de Vitor Ramil e Jorge Drexler ).

Nelson Coelho de Castro, meu parceiro em Ouro, junto com Bebeto Alves e Jorge Mautner em dois tempos.

Em breve mais notícias de tudo isso.
Muito obrigado pela atenção.
Bom final de semana.
Abraçones e beijokones.