quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fora da Ordem






Com os atuais acontecimentos do Rio, vejo muita gente enviando mensagens de SOS para o Capitão Nascimento.

Pois é, foram subtrair aos “bandidos” o seu sustento, expulsá-los do seu habitat sem dar nada em troca, nem mesmo uma indenização ou pagamento pelo ponto, deu no que está dando.

Ironias a parte, eu já pressentia que as ocupações das favelas pelas UPPs e expulsão dos comandos de pontos estratégicos dos tráfico no Rio não iam ficar tão baratas.

Não só pela perda do negócio pelos chefes das bocas, com todo o prejuízo financeiro somado ao achincalhamento, desmoralização e tom de desafio que isso representa. Mas, acima de tudo, porque há políticos e ricaços no Brasil, na América Latina e nos EUA que não querem perder a teta brasileira do mercado de drogas.

E, por trás disso tudo, há o tráfico de armas, que incita e é sustentado pelo das drogas e que inclui, em sua rede, figurões dos altos escalões politicos e econômicos de vários países.

É aí que reside a origem de toda essa violência. Se não fossem as drogas, seriam querelas religiosas, disputas de fronteira ou qualquer outro tipo de tensão que pudesse gerar consumo de material bélico.




Há aí duas grandes redes que se retroalimentam e vivem do sangue sugado de nossa juventude.

Portanto, essa inesperada união das facções do Rio, se está mesmo ocorrendo, a meu ver, é algo orquestrado de cima.

Ninguém quer discutir a liberação nem mesmo da maconha, não só por questões morais, de saúde ou ordem religiosa, mas, sobretudo, porque há um lobby de tubarões graúdos contra a discussão do tema.




A canalha que organiza esse festim não pretende pagar impostos sobre os seus produtos, É preferivel que o mercado ocorra na clandestinidade, como nos tempos da lei seca americana com seus gangsters elegantes.

Aqueles meninos descamisados com armas na mão são apenas o peixe pequeno, a bucha de canhão, os desafortunados buscando reconhecimento e um lugar na sociedade, e que se não é a nossa, que seja uma outra, paralela, por eles soerguida.

O que hoje se vê, embora não pareça, é uma luta por um lugar ao sol de pessoas que a civilização branca organizada de forma injusta relegou a um plano inferior, bem inferior.

É como tapar um vulcão com tapete, por isso tanta violência.



Há um livro do Tarso Genro, escrito nos anos 1980 ou 90 com o título, Socialismo ou Barbárie, inspirado com certeza nos pensamentos da Revista do grupo Francês Socialisme ou Barbarie criado em 1949 por dissidentes trostkistas.

Naquele volume, Tarso já previa os atuais acontecimentos.

Não há como forjar a construção da identidade de um país nem a identidade individual de cada cidadão conectada ao sentimento de pertencimento a uma nação, excluindo desse processo uma parcela tão significativa de sua população como aconteceu no Brasil e tratando esses excluídos como párias, sufocando as suas possibilidades de participação,represando suas energias produtivas e também sua sede de compensação, de reconhecimento e de satisfação de seus desejos e suas alegrias sem que um dia essas energias represadas acabem por derrubar os diques que as contém.



Queremos paz sim, queremos um Brasil melhor, queremos terminar bem esse ano e começar melhor o próximo. Queremos despoluir os rios, resolver os problemas habitacionais, de alimentação, educação, cultura, saúde e transporte. Queremos esporte vitorioso com Copa do Mundo e Olimpíadas seguras e bem sucedidas.



Mas esses caras também querem um lugar para viver e precisam, como qualquer pessoa, ter o reconhecimento de seus desejos e de suas individualidades. Querem ganhar bem. adquirir bens, almejam uma ascencão social e muitos a obtém na escalada das hierarquias do tráfico.

Essas possibilidades de certa forma, mantinham o crime no Rio sob determinadas regras e portanto não havia uma violência tão disseminada.

Mas é lógico que não poderia durar muito tempo uma situação assim, baseada em um mercado ilícito, mesmo que, por trás dos seus mecanismos, opere uma outra rede ainda pior e mais poderosa, com alvará e endereço oficial em grandes avenidas do mundo, que é a rede do tráfico de armas, essa sim o foco principal, onde até mesmo agências de inteligência parecem estar envolvidas.



Acontece que surgem agora novos interesses que não são compatíveis com o panorama atual e que incluem, entre outras coisas, o futuro promissor do mercado de imóveis que já se anuncia em decorrência dos eventos esportivos vindouros, com uma inevitável visada em direção aos morros do Rio onde se encontram as melhores vistas da cidade,

É lá que os comandos vem operando nas últimas décadas. E é de lá que agora precisam ser enxotados, dando início a uma provável “limpeza” do terreno.

Por isso, uma das primeiras perguntas que me ocorre é:

-  Se pretendem fazer esse tipo de operação, onde, em que espécie de aterro, os governos estão pensando em assentar os pobres que hoje habitam as favelas da Zona Sul?

Não há como varrer a miséria como fez Lacerda e outros governantes de outrora, jogando os pobres na Baixada, na Cidade de Deus e outras periferias.

Hoje o buraco é mais embaixo, a população é maior, mais reativa e encontra-se armada. Talvez haja um erro de avaliação nas estratégias de Cabral, Paes e Lula a esse respeito.



Não estou, de forma alguma, colocando- me do lado do crime, mas sim analisando a questão com distanciamento e tentando abordá-la da forma mais ampla possível.

O que está acontecendo agora, para os “bandidos” talvez tenha o sabor de uma revolução, mesmo que eles não possuam conhecimento do significado dessa palavra. Mas não esqueçamos que sua organização se deve a orientações recebidas de presos políticos nos anos 60 e 70 do século passado.

Aquelas torturas, por todos eles sofridas nos porões da ditadura, de certa forma, também emergem agora. Há toda uma violência gerada e contida que nesse momento quer recair sobre a sociedade que a produziu.

É importante ter isso em vista.

Mas, o mais importante, a meu ver, são os interesses internacionais, os caras que estão por trás disso e que não sujam as mãos, não vendem, mandam vender, não matam, mandam matar.

- Por que será que as informacões da polícia vazam?

O Capitão Nascimento pelo qual clamo agora é o do segundo filme. Aquele que nos traz uma conscência maior sobre o que está acontecendo e não apenas o combatente matador.

Há que se tratar a questão com energia, mas também há que se pensar em alternativas, em programas para o futuro que não permitam que esse mal continue crescendo.

Por outro lado, a Globo passou o dia transmitindo o conflito ao vivo e os repórteres não conseguiam entender por que a polícia não havia agido de forma mais efetiva quando um grupo de cerca de duzentos "miseráveis do tráfico" fugiam a descoberto numa estrada que liga as favelas do Cruzeiro e do Alemão.

Parecia haver no ar um desejo de chacina. E muitas pessoas queriam assistir a esse massacre em direto, como se fosse um reality show, independente da impressão negativa e da consequente banalização da violência que isso poderia causar.

Ao ser entrevistado um comandante do Bope falou que possuiam uma estratégia definida e que a polícia só abriria fogo se fosse atacada.

É importante lembrar que é preciso cautela nessas ações, que devem-se evitar vítimas inocentes e, sobretudo que devem-se respeitar os direitos humanos. Até mesmo numa guerra convenções e limites devem ser observados.

Ontem assisti ao Comandante aposentado do Bope Rodrigo Pimentel (que inspirou o filme Tropa de Elite) comentando na TV as operações na Polícia durante a ocupação da Vila Cruzeiro.

Lúcido, ponderado, o ex capitão passou firmeza.

Já repararam na semelhança que há entre ele e o Capitão Nascimento?

Isso atesta o excelente trabalho de Wagner Moura e a escolha acertada do diretor José Padilha ao chamar o ator baiano para o papel principal de seus filmes.


Reparem nas fotos abaixo:







Hoje o Comandante Paulo Henrique falou que as ações de captura dos bandidos devem seguir uma estratégia onde haja um número mínimo de vítimas.

É isso aí. Não podemos cair na barbárie.

Abro para o debate na esperança de dias melhores.

Enquanto isso, vou meditar e pensar positivamente para que nossas idéias se iluminem e nossos corações se tornem mais generosos.

E que os meninos achem as trilha nos trilhos de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro.

Namastê.