terça-feira, 29 de junho de 2010

RITO DE PASSAGEM






 

O que nos acontece, aquilo que fazemos e pensamos, um fato marcante, um aprendizado, uma idéia aparentemente original, quantas vezes nos voltarão  à memória durante a existência?

No último post, ao evocar as razões do nome de meu mais recente CD ,  acabei por reavivar lembranças que me estavam escondidas sob a seda do tempo. E, assim, acessei uma passagem importante ocorrida na infância.

Nessa etapa da vida, tudo é novo, tudo se descortina, começamos a desafiar os primeiros limites e a criar coragem para a conquista de novas metas e territórios.

Em minha família, somos três irmãos, dos quais sou o caçula. Até meus oito anos e meio, morávamos em São Gabriel, uma cidade situada no começo dos pampas e que contava na época, com cerca de 50 mil almas, como se costumava dizer.

Lembro de quando as questões de nascimento e morte, de finito e infinito,  foram inauguradas em meu pensamento. 

Meu tio Benedito morava no sobrado do Cine Vitória, cujo mezanino tinha saída para a escada que conduzia ao seu apartamento, situado no  mesmo andar da cabine de projeção do cinema.

Recordo de, num domingo, sair da matiné e subir as escadas em direção ao apartamento do tio para conversar com Lúcia, minha prima mais velha, sobre aquelas questões que então me inquietavam.

Enquanto espichava as pernas nos degraus, olhando a escadaria, pensava no universo e o intuia como uma sucessão de círculos concêntricos, assim como são as órbitas dos planetas em torno do sol, ou como as camadas de uma casca de cebola. Só que sem, nunca, chegar a um fim.

Imaginava-me rumando à camada mais externa, na direção da expansão do Universo, onde poderia finalmente encontrar uma parede que o limitasse. Mas e do outro lado do muro o que haveria? O nada? 

O nada me parecia ainda mais absurdo que o infinito. 

Hoje penso que ambos constituem as duas faces do Absoluto, mas, naquele momento,  a questão seguiu sem resposta. Minha prima não me ajudou, nem quis confirmar que somos gerados por uma trepada de nossos pais, mas admitiu que todos morremos um dia.

Eu devia contar com seis ou sete anos quando essas perguntas começaram a atacar-me  sem trégua.



Muitas vezes, à noite, ficava com meus irmãos conversando baixinho e esperando que meus pais dormissem para sairmos da cama e aprontarmos alguma. Certa vez, permanecemos acordados, conversando até um pouco antes das cinco e daí resolvemos ir até a casa do vô pra tomarmos o primeiro mate com ele.

Morávamos no princípio de uma ladeira que terminava na ponte do Vacacaí, o rio que banha a cidade.  A casa de meus avós ficava depois da Praça da Matriz , no sentido oposto ao do caminho do rio.

A distância a ser percorrida dava uns 15 minutos a passo de criança. Saímos bem agasalhados, pra enfrentar a madrugada de inverno, o frio gelando a ponta do nariz e os dedos das mãos.

Nosso cachorro, o Dasso, um pastor alemão muito fiel, acompanhou-nos  uma parte do caminho e retornou pra cumprir seu papel de cão de guarda, quando chegamos em frente ao Hotel Glória, um casarão antigo, onde Dom Pedro II ficara hospedado uns dias, no período da Guerra do Paraguai.

Na hora de atravessar a praça, senti calafrios. Tudo dormia. A igreja erguia-se ao fundo silenciosa, como se tivesse uma existência própria e nos observasse com distanciamento.  No interior da praça, as árvores frondosas criavam um escuro espesso. O ciciar das folhas acompanhava o som dos grilos, sobre um manto de silêncio. De vez em quando a quietude era quebrada com o movimento brusco de um galho. Provavelmente uma coruja se mexia ou um outro pássaro acordava. Vez ou outra, um latido distante se ouvia.

Havíamos criado um mito de um cachorro semi invisível que atacava as pessoas no meio da noite. E, mesmo assim, não contornamos a praça, fomos pelo seu centro, cortando em diagonal e sentindo na carne a sensacão de perigo. Com Dasso, poderíamos estar mais protegidos, mas era melhor que ele ficasse em casa, já que só batemos a porta por fora, sem chave.

Existia também a possibilidade de toparmos com Adão Canhão, um mendigo que morava no oco de uma árvore na Floresta da Bica, que margeava a cidade. Ele já nos havia perseguido durante o dia, quando invadimos seu território, no meio do mato. Não acreditávamos que ele estivesse pela cidade àquelas horas, mas vá saber.



Há segundos que parecem minutos e minutos que assemelham-se a horas. Lembro-me de estar com um gorro marrom uruguaio, feito de lã,  com tapa orelhas, como usavam os pilotos de avião. Fechei o botão do gorro por baixo do queixo, que isso pareceia dar mais segurança. E assim transpusemos o maior obstáculo de nossa aventura,  chegando à esquina do Clube Comercial de onde já se podia avistar o letreiro da ótica Lang ao lado da casa do vô.  Descendo a rua, passamos em frente à obra do Gianfranco, um comerciante que fazia o primeiro prédio com mais de dois pisos da cidade, onde os operários estavam começando a chegar.

Mais um minuto e estávamos batendo na porta e torcendo para que o vô ouvisse e a vó não acordasse. Logo, percebemos o arrastar de seu chinelo de couro no assoalho, que rangia e fazia estalar os armários, à medida em que se aproximava até escutarmos sua voz perguntando quem era.

À nossa resposta, abriu uma das folhas da imensa porta de entrada e olhou para baixo, onde deve ter visto três pares de olhos bem acordados, com narizes gelados e bocas sorridentes.

Não lembro que perguntas teria nos feito, mas sei que ficou contente com a inesperada visita e logo senti o aconchego da casa quentinha, a lareira acesa e a água escorrendo pelo bico da chaleira pra repor o mate, que corria de mão em mão. O jeito que ele cevava a erva deixava-a com um gosto especial. Até hoje, quando tomamos um mate com aquele sabor, dizemos que está a la Zeca Franco. E ficamos, ali, proseando e olhando pro fogo  até que, pelas seis da manhã, escutamos o estapido de um tiro, vindo da rua.

Saímos para ver e, na calçada em frente à obra do Gianfranco, um corpo jazia no chão com o peito coberto de sangue e uma porção de gente ao redor. Indagamos e fomos informados de que uma desavença entre dois obreiros havia findado daquela maneira.

Fiquei observando as pessoas em volta do corpo, perscrutando nas fisionomias presentes quem poderia ter sido o autor do disparo. Certamente o assassino por ali já não se encontrava, ou fora detido, ou havia fugido,  mas, diante da força das imagens,  esses detalhes, para mim, passavam a um plano secundário. 




Era meu primeiro contato com a morte de um homem e tratava-se de uma existência interrompida em pleno vigor. Já havia visto o abate de gado e a caça às perdizes. Já sentira um coração de galinha pulsando sob meus dedos que lhe apertavam o pescoço a um instante de Dona Maria, a cozinheira, cortar-lhe a  jugular para fazer a sangria e preparar o frango ao molho pardo de um almoço dominical.

Nessas regiões pampeanas  encara-se o sacrifício de animais com naturalidade e rudeza. Lida-se com isso desde cedo, faz parte do cotidiano. Mas a morte de um homem é algo completamente distinto. Por isso, naquela manhã, sentia uma atmosfera pesada, que criava um continuum envolvendo o corpo, o chão, as pessoas e objetos à volta.

E fiquei a buscar um culpado entre os que ali se encontravam, até divisar  um sujeito de testa comprida e maxilar protumberante, com os globos oculares profundos e olhar meio perdido. A partir daquele momento, ele passou a representar, para mim, não só o assassino, mas toda a situação que o crime envolvia.

Não lembro se partilhei essa idéia com meus irmãos ou se a guardei como uma impressão somente minha. Mas, muitas vezes, cruzava com esse homem pela cidade e não entendia como ainda podia estar solto.

Anos depois, trabalhando como office boy no escritório de advocacia de meus pais, deparei-me com as teorias do psiquiatra italiano Cesare Lombroso, que através de pesquisas craniométricas de criminosos, abrangendo fatores anatômicos, fisiológicos e mentais, chegou ao que ele chamava de “tipologia do delinquente nato”, cujas características principais coincidiam com a do sujeito que eu “elegera” como autor daquele crime do prédio do Gianfranco.

Mas, ao entrar em contato com as idéias lombrosianas, já tinha opiniões formadas sobre muitos assuntos e fiquei, de imediato, em desacordo com elas, pois não considerava que as características físicas de uma pessoa pudessem determinar um comportamento criminoso. Sabemos que fatores bem mais importantes concorrem para isso, como a educação, o caráter, as condições da sociedade em que se vive e o livre arbítrio, entre outras coisas.

Hoje, olhando em retrospectiva para nossa aventura infantil, percebo que buscávamos o desconhecido, desafiamos o negror da noite, como se fosse um preparo para a cena que se descortinou na sequência das horas.

E meu avô, que era um homem de encarar a realidade de frente,  deixou que a vivêssemos como algo a ser incluído em nossa formação, para o aprendizado das coisas que fazem parte da vida, como uma iniciação que começou ao sairmos de casa, e que o destino incumbiu-se de completar com tintas inesperadas.  



As fotos fazem parte do acervo pessoal de minha mãe, Heloiza. São duas fotos de caçada e três em que ela está a cavalo,  quando era bem jovem, numa delas com meu tio Benedito.

terça-feira, 22 de junho de 2010

OS JOSÉS DE JOSÉ







Quando finalizei o CD, em fevereiro ficara faltando uma canção, cuja letra eu havia confiado a um mestre nessa arte e que não a havia concluído. Esperava eu encontrar entre os versos dessa canção uma palavra ou expressão com que pudesse nomear meu disco.

Na ausência da 12ª música fiquei a buscar o título entre as idéias já existentes. Cheguei a pensar em Um e Dois, título de uma das faixas, para mim, mais significativas do álbum e também em Canções à Texto, numa menção aportuguesada àquilo que os franceses chamam de Chansons à Text, que é quando a letra assume um lugar importante na obra.


Mas não queria me valer do nome de uma canção sem que ela refletisse a totalidade do disco e achei que a segunda opção poderia soar pretenciosa, embora julgasse ter realizado com esse CD o meu trabalho mais bem acabado nesse sentido, das relações de letra e música, de forma e conteúdo.

Um dia ocorreu-me a idéia de José, por possuir para mim inúmeros significados que expliicarei a seguir.

No começo de minha carreira, era conhecido como Totonho Villeroy. Mas, devido aos meus trabalhos no exterior e, percebendo a dificuldade dos americanos e europeus em pronunciar corretamente o dígrafo “nh”, presente somente na língua portuguesa, aproveitei o lançamento de meu CD/DVD Sinal dos Tempos, em 2006, para passar a utilizar Antonio no lugar de Totonho, por ser aquele um nome mais universal e que, de certa forma, refletia melhor meu momento profissional.

Em minha mais recente turnê pelo continente europeu, em 2009, respirei as facilidades que o nome Antonio me proporcionaram.

Aqui no Brasil, algumas pessoas ainda relutam. No trato pessoal, acho normal e até me apraz quando tratam-me pelo apelido, mas não gosto mais de ver ou ouvir Totonho relacionado às questões profissionais ou quando anunciado nos meios de comunicação.

O que ainda pouca gente sabe é que, em minha carteira de identidade, está escrito José Antonio Franco Villeroy. Foi com esse nome que fui batizado, registrado, matriculado na escola e foi por ele que busquei e encontrei com alegria na lista dos aprovados do vestibular, é como consta na carteira da Ordem dos Músicos e como trato as
questões civis e assino meus contratos.

Portanto, por trás de Totonho e Antonio sempre houve um José.

Esse era o nome de meu avô materno, conhecido em São Gabriel, onde nasci, como Zeca Franco, o seu Zeca, com quem aprendi muitas coisas e que foi uma de minhas mais fortes referências, como homem trabalhador e chefe de família.

Quando vim ao mundo, ele já contava 67 anos.
Era avô com cara de avô, de cabelos brancos, já não montava mais à cavalo, mas ainda plantava trigo auxiliado por meu tio Benedito, que administrava o seu patrimônio .

Constumava levantar-se pelas 5 da matina, fazia seu mate e ficava à beira do fogo até que minha avó, Maria (sim eram Maria e José), viesse a despertar e preparar o café da manhã, por volta das 6, o orvalho branqueando tudo o que havia do lado de fora e embaçando os vidros das janelas.

O vô, como simplesmente o chamávamos, picava fumo de rolo, fazia seu cigarro de palha e pegava com os dedos rudes um toco de madeira com a ponta em brasa para acendê-lo.

E, enquanto as primeiras aves chilreavam no pátio, sorvia seu chimarrão com uma bomba de prata e bocal de ouro imersa em uma cuia curtida, redonda e bonita como os seios de mulher morena.

O verde vivo da erva, os movimentos do fogo fazendo projeções na sala, o cheiro da lenha queimando e os estalidos que isso provocava fixavam-se como puras sensações em minha memória sem que eu sequer imaginasse vir, um dia, sobre elas discorrer.

Ouvia nas ondas curtas do rádio as notícias do mundo e os recados do mensageiro rural que auxiliava os "sem telefone" sobre parentes que
chegavam, um socorro a ser prestado ou que alguém era esperado com cavalo encilhado na porteira de uma beira de estrada.

Minha mãe queria batizar-me de Antonio, mas meu avô reclamou que nenhum neto possuía seu nome e assim nasci José Antonio.

Isso explica apenas uma parte do título do disco, José, mas não foi somente por essa razão que inclinei-me por esse nome.






No mês de fevereiro passado, num dia chuvoso e de ressaca em que o mar havia avançado sobre a rua deparei-me e fotografei um peixe sobre a ciclovia, uma imagem forte que partilhei num album do Facebook.


Caminhei pela praia a fazer fotos, querendo enquandrar gaivotas que alçavam vôo à medida em que as ondas lambiam a areia.

E quando a maré avançava, o que vinha não era uma água límpida, mas uma espuma marrom que trazia consigo garrafas pet e outras formas de lixo humano.

Veio-me a pergunta “ E agora José” do poema de Drumond, onde o poeta indaga-se a si mesmo com autocrítica, como se, ao mesmo tempo, questionasse o homem comum, o indivíduo que pergunta-se para onde ir depois que a festa acaba, que a noite esfria, e que esta só, marchando sem direção.





Essas perguntas ecoaram diante de mim, olhando o mar marrom, e tentando saber onde vamos parar, quais nossas saídas para os problemas globais que se apresentam, de escassez de recursos naturais, de poluição em um nível insuportável, cujas consequências estamos vendo e sentindo todos os dias, das diferenças sociais a cada dia mais agudas, gerando sociedades marginais e poderes paralelos e uma legião de jovens drogados e sem perspectivas entre inúmeras outras questões.


A solidão que senti nesse momento, tendo sob meus pés a areia fina transportou-me ao José Bíblico, filho de Abraão que foi vendido por seus irmãos ao Egito e que serviu a Putifar, cuja mulher tentou seduzí-lo e, diante de suas recusas, acusou-o (in)justamente do contrário o que o levou à prisão, onde angariou a confiança do carcereiro e, por sua habilidade em decifrar sonhos, foi um dia chamado pelo Faraó para decifrar dois sonhos seus, o das sete vacas gordas que eram engolidas por sete vacas magras e o das sete espigas fartas engolidas por outras sete espigas secas, que José interpretou como sendo um período de sete anos de boas safras seguido de um outro, de escassez, de igual tamanho e aconselhou o Faraó a armazenar suprimentos durante a fartura para enfrentar o periodo difícil, sendo, por sua sabedoria, nomeado administrador geral do Egito, vindo mais tarde a reencontrar e perdoar seus irmãos, que buscaram Jacó para que todos vivessem juntos durante aqueles anos em que a penúria se abateu sobre aquela região onde começa história do mundo judaico cristão.

Os doze filhos de jacó deram origem às doze tribos de Israel.




Pesquisando sobre as origens do nome José, descobri que em hebraico é Yossef, derivado
da palavra "Yoseph , cujo significado é "Deus acrescenta, provê", o que fica em consonância com o título José, O Provedor, do terceiro volume da obra de Thomas Mann sobre o personagem bíblico a que acabo de me referir.

Aos poucos foram me ocorrendo outros personagens com esse nome, entre eles, o cabo do exército que perde a cabeça ao apaixonar-se po Carmem e a mata no 4º ato da ópera de Bizet; o José Costas do livro Budapeste de Chico Buarque, que é um ghost writer e que me fez pensar que muitos compositores passam a vida no ostracismo sem obter reconhecimento pelo seu trabalho.

Eu mesmo, até há alguns anos atrás, sentia um pouco essa sensação, possuindo uma grande quantidade de músicas gravadas por outros artistas, sem que a maior parte das pessoas tivesse ciência disso.

Hoje contando com mais de uma centena de músicas gravadas, percebo que um grande público já reconhece minha assinatura de autor compositor, independente da voz que esteja entoando a canção, e cada vez mais pessoas se interessam pelas interpretações que faço de minhas obras.

Isso reflete-se nos shows lotados, não só no Brasil como em algumas cidades da Europa.

Atualmente circulando pelas redes sociais, encontro muitos twitteiros anônimos, pessoas que valem-se de um nick sem identificar-se e que possuem um grande número de seguidores. Não deixam de ser ghost writers voluntários.

José pode ser, portanto, o personagem bíblico, o homem comum, o Zé da Silva, típico brasileiro, o sujeito anônimo, o ghostwriter, um andarilho cigano, que em língua hispânica é gitano, derivado de egiptano, e por isso falo “ … até um dia encontrar seu devido lugar num Egito qualquer, Gitano que és …”

Todas essas reflexões aparecem em “E agora você”, a canção que encerra e sintetiza o CD (Gramado Suplementar é faixa bonus), fazendo um arco que começa no Egito, passando pela Penísnsula Ibérica de espanhóis e portugueses, tangenciando o José de Drumond, com seu terno de vidro, para completar o desenho no José de hoje, com o qual me identifico, a reciclar e a renovar o ar, pulando as pedras do caminho (mais uma referência a Drumond), sem culpa, sem remorso e sem juízo.

Ao falar essa frase, refiro-me à necessidade de libertação do fardo da culpa judaico cristã e de abolir os julgamentos prévios, os pré conceitos e tirar a sobrecarga da idéia de um juízo final implacável que venha a inibir o exercício do livre arbítrio e da capacidade de dirigir a própria vida com sabedoria.

Para isso valho-me ainda de uma sentença atribuída a Pompeu (aquele que com César e Crasso formou o 1º Triunvirato de Roma), e que foi também adotada por Fernando Pessoa e, posteriormente, por Caetano Veloso na sua música os Argonautas:
"navegar é preciso, viver não é preciso"

Por volta de 70 a.C., Pompeu foi enviado à Sicília para escoltar uma frota com provisões para Roma, que passava fome diante de uma rebelião de escravos liderada por Espártaco. Com os navios prontos para partir, o comandante da frota anteviu uma tempestade e sugeriu a Pompeu que adiassem a partida. Segundo o historiador romano Plutarco, foi nessa hora que o general disse:
Navigare necesse, vivere non necesse.

Pessoa tomou-a para em si em um poema para dizer que viver não é necessário; o que é necessário é criar, para tornar sua vida grande.

Mas há também para essa frase a conotação de que para navegar exige-se precisão de cálculo, dos ventos, das distâncias e direções, ao passo em que a vida não é exata, não é precisa, há o acaso, o que nos exige um outro tipo de atenção, que nos permite aproveitar o inesperado a nosso favor.

E com uma adaptação daquela frase faço o arremate de José:

Saber navegar
que é preciso
viver

Com vários sentidos, de que navegar é necessário e exige precisão, porque é imprescindível viver.

Esse texto ainda será editado e receberá acréscimos, mas faço questão de publicá-lo assim mesmo com todos seus erros que uma posterior revisão abrandará.

Na foto do alto do post, está meu vô Zeca, sentado do lado direito, com amigos. É importante notar que o seu lenço é branco e que os seus parceiros usam lenço vermelho.

Para uma foto datada de 1924 isso tem enorme significado, pois o Rio Grande do Sul estava vivendo um conflito político de grandes proporções que opunha os federalistas (lenço vermelho, alcunhados de maragatos), que lutavam pela descentralização do poder, e os Republicanos (lenço branco, ou ximangos, como eram chamados, devido ao apelido dado por Ramiro Barcelos ao então governador do estado do RS, Borges de Medeiros), que eram constitucionalistas, seguidores dos princípios filosóficos do positivista Augusto Comte.

O fato de ximangos e maragatos dividirem o mate significa uma enorme tolerância entre os amigos, numa época em que havia muita matança até mesmo entre parentes que não partilhavam dos mesmos ideais

Amanhã, às 19h30, tem show na Modern Sound. Entrada franca.

Quem chegar será bem vindo.

Até mais.
Namastê.