sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

DISCO E PROJETO CANTAUTOR





Tenho andado afastado aqui da Câmera. Os trabalhos realativos à produção de meu disco e a realização de Festival Cantautor no Cinemathèque estão  absorvendo quase todo meu tempo. Quase não tenho pedalado, quase não tenho lido, mas tenho me valido do Facebook e Twitter para a troca de informações, por serem esses dois meios as formas mais instantâneas de interatividade na rede. 

Em consideração aos meus leitores que não circulam por nenhum desses dois mencionados portais, vou aproveitar um tempinho que tenho agora livre para dar um apanhado de tudo o que está rolando.




O DISCO

Ainda sem nome definido, comecei a gravá-lo no dia 4 de janeiro no estúdio da gravadora Biscoito Fino, recomeçando quase do zero esse trabalho que já estava avançado em outro formato.



Explico. Eu vinha produzindo por conta própria algumas canções que fariam parte de meu álbum novo. Fazia isso enquanto me envolvia em diversos outros projetos. Havia tomado como base para o disco o grupo que me acompanhou na tourné Além do Paraíso que realizei em 2008. Esse seria o título do disco. Já tinha umas 10 bases gravadas e algumas canções que havia finalizado coloquei no meu site oficial e no myspace.



Um dia, Joana Hime, filha de Francis e Olívia Hime, e que é uma das gerentes de produto da gravadora, depois de ouvir as canções que eu havia publicado em meus sites me escreveu: "vamos abiscoitar isso tudo?" . Achei aquilo muito simpático. Em 2006 ia lançar meu DVD/CD Sinal dos Tempos pela Biscoito, estava para assinar o contrato, quando, na véspera conheci Roberto Carlos num jantar na casa de minha amiga Juliana Broto, que vem a ser sobrinha de Maria Rita, inesqueçível amor de Roberto. Fiquei umas 2 horas conversando com o rei. Falei-lhe da minha infância, do meu encantamento da jovem guarda e de minha carreira até chegar ao meu DVD. Roberto contou-me que começara cantando bossa nova acompanhado por João Donato em uma boate de Copacabana. Depois de  mútuas confissões  ele e Juliana me apresentaram a Claudio Condé, então presidente da Warner, que interessou-se em lançar o disco.  Acabei assinando com a Warner que me oferecia, na época, um contrato com melhores possibilidades.



No dia seguinte levei flores para Joana e duas garrafas de um um vinho maravilhoso da região de Bandol na França para Kati Almeida Braga (dona da Biscoito Fino) e Olívia Hime a diretora artística. Agora retorno à casa, ou melhor, finalmente entro para o seu cast, num momento excelente de minha carreira o que será bom para todo mundo.



Joana e eu começamos então a falar a respeito do disco. A princípio eu iria aproveitar o que já estava pronto e finalizar as músicas já começadas. Quando fechamos o contrato eu comecei a pensar o disco de uma forma diferente. Eu estava achando muito pop o que já tinha gravado e estava pensando em aproveitar as condições que a Biscoito me dava pra dar uma mexida geral e levar o conceito do disco para uma estética mais brasileira e mais acústica. Para se ter uma idéia a música Além do Paraíso nem estea mais no repertório.




 Chamei Torcuato Mariano para produzir comigo. De Paris veio o percussionista Jorge Bezerra Jr, que fora integrante da banda de Joe Zawinul (um dos maiores músicos desse planeta) e que havia me acompanhado em Paris no começo de 2009. A princípio pensava em fazer o disco tendo como base um trio com baixo, percussão e eu nos violões. 



Para completar esse trio, chamei o baixista Sérgio Brandão, que, há cerca de 20 anos mora em Nova Iorque e domina muito bem o rabecão acústico.



Quando começamos as gravações o disco foi tomando outros rumos, adquirindo outra sonoridade imprevista. Torcuato Mariano é um excelente músico, compositor, violonista e guitarrista, já foi proprietário de estúdio, foi executido de grandes gravadoras e produziu muita gente do pop, do rock, da MPB, do pagode, do sertanejo, do axé. Enfim um cara com muita experiência, com muito domínio de estúdio e que compreende e admira muito o meu trabalho. Foi uma excelente soma, tirou-me o peso de algumas decisões trazendo, de fora, uma visão
que foi fundamental para o novo direcionamento do trabalho.





Jorge Bezerra gravou 6 bases e voltou para Paris. Chamamos  Marcos Suzano para gravar outras 5. A 12ª música a princípio não teria sessão ritmica, mas contaria com orquestra, piano e violão. Brandão arrasou no seu trabalho, complementando magistralmente o trabalho dos dois percussionistas. Bezerra espontâneo, emocional, Suzano perfeccionista, criativo e disciplinado, obtendo resultados com muita eficácia e em rápido tempo.





Convidei Eduardo Neves para fazer o arranjo de sopros de duas músicas: Felicidade do Lupicínio Rodrigues (única que não assino no repertório) e Recomeço, uma das inéditas que mais gosto do repertório. Os arranjos de Edu ficaram algo de uma beleza extrema, além de apresentarem uma personalidade muito forte, como se fossem uma releitura de uma sonoridade inserida em parte no universo das gafieiras dos anos 50, em parte ao mundo fonográfico do começo dos 70.



Esses dois arranjos levaram nossa proa em uma nova direção antes não pensada. E passamos a nortear os timbres das outras músicas levando em conta aqueles arranjos. Ou seja, o trabalho de Edu produziu, além de um resultado musical, um efeito artístico, na melhor acepção desse termo, ajudando a conceituar a totalidade daquilo que vínhamos produzindo.





E nos levou a chamar Paulinho Braga para gravar bateria em quatro músicas, incluindo a que não teria sessão rítmica. O disco foi ganhando qualidade com cellos solos e dobrados de Jaques Morelenbaum, harmônica de Gabriel Grossi, pianos de David Feldman,  violões incríveis de Daniel Santiago (um de meus músicos favoritos) e de Torcuato que fez solo espanholado em El Guion e fez uma excelente lapsteal guitar em Ouro dobrando vozes com o violinista Nicolas Krassik que também fez solo na música.





Maria Gadu fez duo comigo em Recomeço. Comecei essa música para Maria gravar no seu primeiro disco. A canção marcava minha separação, tinha um conteúdo emocional importante para mim, demorei para finalizá-la e acabou não entrando no disco de Gadu. Mas eu sempre continuava ouvindo os acentos dela nas frases da canção. Não resisti e a chamei. Ficou linda e fez jus à sua gênese. 



Gadu além de ser uma artista maravilhosa, cantando de um jeito genuíno, com uma assinatura inconfundível e de escrever canções ao mesmo tempo populares e de grande profundidade ee uma pessoa doce, cooperativa, que quer ver as coisas darem certo. Sabe pedir licença e agradecer e por isso também o Universo lhe é tão generoso.



Outras coisas boas ainda devem acontecer durante as gravações que foram estendidas até o dia 7 de fevereiro.

FESTIVAL CANTAUTOR



No ano de 2003, uma música de tonalidade folk ganhou as rádios do mundo inteiro na voz de Norah Jones. Comprei o disco que lançava a cantora em Los Angeles e ele tornou-se uma de minhas trilhas sonoras enquanto  rodava pelas estradas da Califórnia, indo de um estúdio a outro em trabalhos de composição com músicos de lá. Um tempo depois Norah veio ao Brasil e assisti ao seu show em Porto Alegre, tendo como abertura Jesse Harris, o autor de Don't Know Why, que lhe rendeu o  Grammy de single do ano em 2003, e de outras 4 canções que integravam o repertório do CD. Muita gente ficou inquieta durante a apresentação de Jesse, pois aguardavam a estrela principal da noite. 



Ao ver aquilo, senti uma certa identificação com Jesse, imaginei-me abrindo um show de Ana Carolina, que já gravou 25 canções de minha autoria, num ginásio lotado. Sei que os fãs de Ana também me amam e iam me receber com tapete vermelho, mas também sei a euforia que costuma tomar conta da platéia nos shows de minha amiga. Muita gente ia ficar inquieta, apesar do respeito e admiração que sentem por mim.



Outra coisa que me chamou atenção em Jesse, era o fato dele apresentar-se sozinho com sua guitarra, cantando suas idéias e as coisas do seu coração, como um bardo, um cantador medieval, um homem que corre o mundo dizendo seus textos em forma de música.

No dia seguinte ao do show, encontrei Jesse, Norah e sua banda no aeroporto, eles vindo pro Rio eu indo fazer show em Belo Horizonte. Conversamos, presentei-lhes com um disco meu e seguimos nossos rumos.



Alguns anos depois, meu amigo Mauro Refosco, excelente percussionista que mora em Nova Iorque onde atua com David Byrne e tem uma banda com o genial Thom Yorke, do Radiohead e Flea,  o não menos genial baixista do Red Hot Chilli Pepers, convidou-me para assistir a um show que faria com Jesse Harris no Cinemathèque. Ali retomei minhas primeiras impressões sobre o novaiorquino e veio-me, pela primeira vez a idéia de fazer pelo meu selo uma série que chamaria de Cantautor, jogando o foco justamente nesse tipo de artista.

Ali começamos nossa amizade, que foi reforçada com uma nova vinda de Jesse ao Brasil no ano passado, junto com outro compositor muito talentoso, Richard Julian. Entre praias, baladas na Lapa e saraus compusemos nossa primeira parceria e consolidou-me a idéia de fazer a série Cantautor em que já pensava incluir Márcio Faraco, Gelson Oliveira e outros excelentes artistas daqui e do exterior que ainda não tem uma boa distribuição no Brasil

A partir daquele momento meu tempo foi em parte dedicado à execução dessa idéia.
Finalmente no mês de novembro conseguimos acertar todos os detalhes com os artistas e a Microservice que dsitribui meu selo PIC Music e com ajuda de minha amiga, a produtora Fabiane Pereira, a Morena Coral, marcamos os shows de lançamento no mesmo Cinemathèque que havia me inspirado esse projeto. E Fabi me encaminhou uma outra pessoa sensacional, Ana Paula, que está realizando, ao mesmo tempo, com a  maior competência e no melhor astral possível, as produções do meu disco e do Festival no Cinemathèque .

Ótimo local para lançamentos (foi lá que vi pela primeira vez a Gadu no palco, antes só a via aqui em casa e nos saraus do Dudu Falcão), o Cinemathèque casou perfeitamente com a idéia.

E assim começamos o festival no dia 20 de janeiro com Jesse Harris acompanhado de Mauro Refosco na percussão.

Show execelente, público numeroso e atento. Jesse conquistou até quem não entendia as letras em inglês, ganhou pelo timbre de voz interessante, pela densidade das canções, pela simpatia. Refosco foi um show à parte.



Márcio Faraco, que veio especialmente da França para o lançamento de seu disco Um Rio, que conta com a participação de Milton Nascimento, deu sequência ao festival no dia no dia 27.  Ele é um bom exemplo de que boa música brasileira também se faz fora das fronteiras do país. Gaúcho de Alegrete, passou boa parte de sua vida em Brasília. 

Radicado em Paris desde 1992, Márcio teve seu talento reconhecido já no lançamento de seu primeiro CD, Ciranda, em 2000, na França, com a participação especial de Chico Buarque, na música-titulo. E, por incrível que pareça, sua recente incursão nos ouvidos brasileiros se deu emfrancês: Márcio fez duo com Nana Caymmi na versão francesa de Georges Moustaki para Eu Sei que Vou te Amar, gravada para trilha da novela Beleza Pura, da TV Globo.



Acompanhado de Daniel Santiago no violão, Faraco fez seu show com o Cinemathèque lotado, e se mostrou bom de palco, simpático, divertido e carismático. Contou a origem de algumas músicas com muito bom humor fazendo rir e relaxar o público.




Os duos de violões rolaram muito bem, com frases soando em uníssono ou se complementando. No final a platéia ovacionou de pé, foi reação instantânea e espontânea.



Dia 3 de fevereiro o festival continua com Gelson Oliveira que contará com as participações de Paulo Moura e Marisa Rotenberg.

Gelson é, acima de tudo, um excelente cantor. Começou sua carreira musical aos 14 anos, quando fingia ir dormir e saía pela janela do quarto para cantar em bailes quando morava em Gramado e voltava quietinho pra não acordar seus pais um pouco antes da hora de ir pra escola. Um dia sua mãe o surpreendeu saindo, relutou mas acabou sendo convencida a deixá-lo exercer sua paixão pela música. De crooner, Gelson passou a ser compositor de suas próprias músicas. Achou os termos certos, as notas mais adequadas aos seus sentimentos.



Um dia o saxofonista e clarinetista Paulo Moura, que também é compositor e arranjador, enfim um músico incrível, viu Gelson cantando num festival de cinema de Gramado e o convenceu a vir para o Rio estudar música na Escola Villa Lobos, concedendo-lhe uma bolsa.

Gelson, que não tinha recursos para a passagem, nem mesmo de ônibus, veio de carona, dormindo em rede debaixo de caminhões em postos de gasolina. Mais uma grande aventura em nome da música.



Aqui no Rio ficou na casa de parentes e abriu um leque de amizades no meio musical. Gravou muitos jingles, trabalhou com Ivan e Lucinha Lins, fez a música tema e outras do filme O Sonho Não Acabou de Sérgio Resende. Depois voltou pra Porto Alegre, gravou seu primeiro disco. Foi chamado pra abrir um show de Gilberto Gil no Gigantinho e ganhou o cantautor baiano, que participou de seu disco Imagem das Pedras, assim como Paulo Moura.

Esse disco lhe rendeu o Prêmio Sharp (depois Tim) de Revelação da MPB .

Gelson é um de meus melhores amigos. Uma pessoa que me conhece muito bem.

Foi em sua companhia que fui a primeira vez para a Europa. Ensaimos várias semanas o show Saídas e Bandeiras, que estreou no Teatro d Reitoria da UFRGS em Porto Alegre, em meio de 1994, para um público de 1.600 pessoas. Depois passamos por Floripa, São Paulo antes de embarcarmos para a Bélgica.

Nesse primeiro ano permanecemos 6 meses e realizamos 44 apresentações em cidades da França, Suíça, Italia, Austria e Alemanha.

Voltamos algumas vezes juntos para shows no continente europeu. Outras vezes Gelson foi com sua banda, em duo com o trombonista Julio Rizzo e em shows solo.



Seu mais novo trabalho fonográfico, Tridimensional, que está sendo lancado pelo meu selo, recebeu altos elogios de seu parceiro Gilberto Gil que escreveu um lindo texo que termina assim:

" Agora, Gelson lança mais um disco feito com alguns dos seus incontáveis amigos músicos e admiradores da cena portoalegrense. Mais uma série elegante de suas composições tão sóbrias e vibrantes quanto envolventes e cativantes.
Vai aqui o meu afetuoso entusiasmo para com mais este generoso presente que o meu querido irmão nos regala.”

Quem quiser participar da lista amiga para o show de Gelson, por favor envie os nomes para

apaula2009@hotmail.com

Resumo dessa primeira edição do Cantautor:

20/01 – o americano Jesse Harris
27/01 – o gaúcho residente na França, Márcio Faraco
03/02 – outro gaúcho, Gelson Oliveira

Em abril lanço meu novo disco.

Em maio o festival Cantautor volta ao Cinemathèque para os lançamentos dos discos de
Diana Tejera (excelente artista romana parceira de Chiara Civell0), Richard Julian (já citado novaiorquino da troupe de Jesse), Nelson Coelho de Castro (brilhante artista, mestre das palavras, meu grande parceiro, morador de Porto Alegre) e Leo Minax (mineiro que vive em Madrid e é parceiro de Vitor Ramil e Jorge Drexler ).


Nelson Coelho de Castro, meu parceiro em Ouro, junto com Bebeto Alves e Jorge Mautner em dois tempos.



Em breve mais notícias de tudo isso.
Muito obrigado pela atenção.
Bom final de semana.

Abraçones e beijokones.



segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Fotos, Relatos e Rabiscos











Seg 11/01/10
6:16

Faz um certo tempo que não durmo mais do que 5 horas por dia. Dizem que o correto são 8 horas. Não fico esse tempo todo dormindo desde o começo dos anos 90, quando passei a dormir 6 horas diárias. Hoje, um pouco antes do sol nascer, as cigarras começam seu trinado, logo ouço um sabiá, depois os bentevis e outros pássaros. Uma casal de sanhaços sempre passeia pela minha sacada, a luz adentra pelas frestas no quarto. Às vezes, quando a noite anterior foi de lua, deixo a porta da sacada sem cortina e a luminosidade chega mais intensa. Essa é minha hora preferida de escrever poemas, quando acordo, porque ainda não estou contaminado pelas coisas do dia a dia, ainda estou mais próximo do inconsciente e as forças da natureza atuam em mim de forma mais intensa. Por isso tenho escrito tantos poemas que parecem naturalistas, ou melhor, assemelham-se a naturezas vivas. 



Outro dia Ana Carolina falou que minha maneira de escrever poemas era clásica, que sendo eu um cara tão urbano, cosmopolita, vivedor das coisas da cidade,  que era surpreendente como  eu tratava a palavra, os ritmos e as rimas desse jeito tão lapidar. Esperava que eu fosse mais visceral, mais beatnic, mais pro lado de Ginsberg escrevendo. É fato que já fui assim, na época em que fiz canções como Tô Saindo e Ela é Bamba por exemplo. Nessa fase os poucos poemas que escrevi eram mais carregados de fumaça e com estilo mais corrido, mais prosaico.





Hoje, busco em mim uma inocência perdida, perscruto as manhãs de minha infância, o jardim de minha avó, tão bem cuidado, em São Gabriel, a pureza do azul daquele céu pampeano, as estações bem definidas. Mas não sou saudosista, faço isso atualizando, valendo-me do belo que há em abundância na cidade do Rio de Janeiro, minha principal musa atualmente.

Além dos movimentos do sol e da lua, da cinematografia de São Sebastião, o diretor invisível, que, além de ocupar-se da iluminação e do cenário, muitas vezes parece conduzir minha biocicleta pela paisagem, outras coisas me tocam. São imagens, cheiros, pessoas, notícias, alguém que de longe liga, um passarinho diferente na janela, o movimento das nuvens, essas coisas que bolem a alma, além de uma solitude voluntária que me propicia silêncio suficiente para o olhar interno.




Sempre fiz mais música do que poemas. É pegar no violão e uma nova melodia nasce. E já fui muito grudado com o violão. Hoje faço isso no piano, mas nem sempre gravo, deixo aquela pequena composição naquele tempo e não volto mais a ela. Atualmente estou viciado em escrever. Uma parte do que escrevo publico aqui no Blog e no Facebook, além de frases rápidas no Twitter. Essa resposta imediata que esses meios de comunicação proporcionam são também outra fonte de inspiração. As reações dos leitores são matéria prima de primeira, são reações-musa.  






Tenho lembrado de Lewis Carroll com frequência, por várias razões. Por seguidamente acessar um livro de Deleuze a seu respeito, pelos poemas misturando línguas que me arrisco a fazer o que levou a lembrar-me do Finnegans Wake de Joyce, onde se encontram palavras-valise (palavras portmanteau, como diria Carroll, que delas se servia já na era vitoriana) e por lembrar do coelho de Alice,  pelo que ele me passa de fugidio e transitório, como o tempo, algo que parece constantemente escapar-me entre os dedos.  

O dia passa muito rápido, mal sento-me pra escrever e já está na hora de ir pro estúdio. Se me descuido das horas, não pedalo e não faço yoga, coisas essenciais pra mim hoje em dia.  Por isso durmo menos. 

Na sua busca pelo coelho Alice chega até o Chapeleiro Louco que brigou com o tempo e o fez parar.  Na mesa do Chapeleiro é sempre hora do chá. Enquanto isso o coelho continua correndo pra atender às ordens da Rainha de Copas, que representa a fixidez e a rígida moral vitoriana. 

Aqui estou eu então, brigando com o tempo e procurando escapar de toda rigidez sem tornar-me louco e nem esperar que o ponteiro do relógio estacione. A poesia me embala.


                    Fernando Prado, engenheiro de som  ao  fundo equipe de PH


Segunda passada comecei as gravações de meu novo disco. Chamei Torquato Mariano pra produzir comigo, o que é excelente, pois ele tem ótima metodologia, além de idéias e soluções criativas. O disco está começando a ficar muito bom. Geralmente produzo meus discos sozinho, no Sinal dos Tempos tive a co-produção de Gastão Villeroy, que também me ajudou muito, como sempre ajuda. Obrigado chefia.  É  bom ter alguém pra partilhar as decisões e para dirigir os músicos, pois embora eu tenha bem claro o resultado que quero, também gosto de ser surpreendido com coisas que não havia pensado.




                                              Torquato Mariano

Às vezes que produzi sozinho sempre tinha mais tempo, ia fazendo o disco, ouvindo e decidindo. Levava meses. Mas esse de agora a Biscoito Fino me deu um prazo o que implicou num trabalho mais dinâmico, o que requer uma equipe boa e coesa.

Tenho algumas gravações que já havia feito no final de 2008 e comecinho de 2009.
Dessas gravações estou guardando algumas baterias do Lincoln Cheib, baixos do Gastão, acordeões do Alessandro Kramer "Bebê" , um piano do Rafel Vernet e um violino solo do Nicolas Krassik.

Mas a sonoridade anterior estava muito pop e resolvi tomar outra direção, mais acústica, com a formação que pretendo me apresentar a partir do lançamento em março, tendo como base os meus violões mais baixo acústico e percuteria e sempre com algum instrumento harmônico ou melódico como convidado.

Sobre essas bases Monico Aguilera (que arranjou várias de Sinal dos Tempos) está escrevendo para cordas e Edu Neves para sopros (mais na direção de sons de madeira do que metais).

Muitas músicas inéditas e também a regravação de Felicidade do Lupicínio com outra harmonização que fiz e tocada sobre tambores africanos, que fazem lembrar a Cidade Baixa do Lupi.


                                 Sérgio Brandão, Jorge B Jr, Torquato, Antonio

Para formar essa base, chamei pra percussão o Jorge Bezerra Jr, que mora em Paris e tocou comigo lá no começo de 2009, e para o baixo acústico Sérgio Brandão que mora em NY e está voltando a viver no Rio e passará a integrar o trio que fará a tournê comigo junto com Joca Perpignan.

Algumas pessoas perguntam por que chamei um outro baixista tendo já um excelente na família e que inclusive é a pessoa que melhor conhece meu trabalho. O fato é que, além de estar buscando outra sonoridade,  Gastão toca direto com Milton Nascimento e Maria Gadú e já precisa se equilibrar pra atender um e outro, o que lhe faz colocar substitutos em um dos trabalhos toda vez que há uma coincidência de datas. Na época do lançamento de Sinal dos Tempos eu já penei, pois além do Gastão,  outro músico que tocava comigo, Lincoln Cheib, também era da banda de Milton. Enfim ...

Além do trio de base e das cordas e sopros, vão rolar violões extras de Daniel Santiago, pianos de David Feldman, sax e flauta do Edu Neves e harmônica do Gabriel Grossi.



                                          Sergio Brandão e França

Como técnico o Fernando Prado e Gustavo da Biscoito de auxiliar.
França, grande figura da lage do Morro da Babilônia fazendo aquela roudagem especial.

A equipe do PH, de Floripa, está fazendo o making off de vídeo a pedido de Kaká Schetmann que cuida do agenciamento de uma parte de minhas atividades junto com Raphaella Barcalla (Conteúdo), Simone Appel (exterior) e Pedro Villeroy (direitos autorais). O Roberto fazendo as fotos de estúdio e a Branca Escobar a criação gráfica.
Completando o time Ana Paula  assume a produção executiva e Mary Debs a assessoria de imprensa.


E sob as bençãos de toda boa energia que houver ficamos na Biscoito Fino  até 31 de janeiro. O lançamendo do disco deverá rolar na segunda quinzena de março.

E agora deixo vocês com imagens e poemas que fiz nas últimas semanas.
Beijones e abraçones.









Ode a Oxum

Assim que o dia refletia
na espelhada água
em seu gesto habitual
ela se mirava

filha de Oxum que era
natural que se fitasse
pra ficar mais bela

dentes brancos como a espuma
onde a língua se aninhava
num trejeito seu
tudo era atraente no que Deus lhe deu

tudo de rainha
em seu gracioso andado

pés em curva
braços leves
mãos aladas

nem a lua que ilumina o céu
sabe o quanto ela é amada












O anjo a rosa e o vento

Quem merece a rosa
do seu nome

e mais que o nome
o ser concreto
e tão vibrante
com seu belo e seu perfume
toda espinho
e inconstante

e os anjos
que aqui passeiam
vendo tudo se criar

ventre livre
das ideias
onde brotam
e se misturam
como em sonho edulcorado

o anjo
a rosa
o azul
e o céu rosado

como sustentar essa leveza

o véu
a pluma
o alento

e a sã delicadeza
que oscilando
quer deixar-se ao vento

como levitar
enquanto o mundo pesa
em concretude
e incerteza

como soerguelo
de seu fundo
ir buscá-lo
num segundo

asas
força
prumo
ligeireza

só amor
consegue essa proeza









Eyes of lightness

la lumière que plonge du ciel,
n'es fait plus que paindre mes yeux

a lagoa que ao longe reluz
fui eu que pintei pra você.

vorrei vedere più de la luna,
che adesso me guarda lontana

y bien más que los simples recuerdos
que me haces dejar por mañana.






Granito 

pesa
e respira
em contorno claro
que palpita
a escura rocha
que reparte em dois
o seu destino

ver-se ao longe e desejada
onde o sol se esconde
em fim de tarde

fora em priscas eras
monolito
a expressar
os filhos do fenício rei

dois irmãos 

antes disso e de as línguas
se tornarem incompreensíveis
e que fosse o sexo divido em dois

não houvera bússula
por não ser preciso

era de
andróginos perfeitos
tudo resfolgava em paraíso

foi-se a luz fazendo curva
a encontrar-se nela mesma
pra dizer que tudo era incerteza

tudo convergindo
em gravidade

rogo
abre-te sésamo
pra que a pedra
perca essa dureza

nesse agora
férreo tempo
que vislumbra  o horizonte
como coisa inacabada
há que ater-se
para dentro
onde reina o ser sereno

e saber-se
como eterno
nem tão grande nem pequeno
simplesmente o ser completo
 




(work in progress ...)















Sebastião, continue pintando, você tem talento pra coisa.